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domingo, 18 de outubro de 2015

Ana Carolina

Não tenho palavras para descrever sobre a perda. Passei a minha vida assim, perdendo as pessoas que amava. Depois de cair diversas vezes, aprendia a me levantar e continuar. Mas chega um ponto que vai se tornando difícil.
Lembro que perdi os meus pais quando tinha quatro anos. Eles estavam indo me buscar na casa de minha avó, quando sofreram um atentado e perderam a vida. Sentia muito a falta deles, mas devido a minha pouca idade não sabia ao certo o que estava acontecendo. Passei um bom tempo acreditando que estava de férias e que um dia eles me buscariam. Quantas vezes ao tocar a campainha saía correndo na esperança de serem eles. E assim, fui crescendo.
Aos nove anos, perdi o meu avô. Ele teve um infarto fulminante e morreu ali mesmo na sala de jantar. No momento, achei que estava brincando, mas quando vi o desespero de vovó, vi que era verdade. Foi a primeira vez que presenciei a morte assim tão de perto. Ela me assustou bastante. Depois daquele dia, acredito que vovó nunca mais foi a mesma. Creio que eu também não. 
Neste período fiz uma linda amizade com o meu vizinho que acabara de mudar para o bairro, o Eduardo. Eduardo era divertido, muito brincalhão e sincero. Encarava a vida de uma forma muito madura para sua idade (e para a minha também). Ele não ia a escola, dizia que tinha uma saúde frágil. Brincávamos juntos, conversávamos bastante e fazíamos grandes planos para a vida. Nossa amizade não durou dois anos. Num inverno, ele pegou pneumonia e devido a seus problemas de saúde, não resistiu. Acredito, que a morte dele assim tão prematura me mostrou a fragilidade da vida.
Fiquei muito mal. Não sabia o que fazer. A mãe dele gostava muito de mim e ao me ver assim tão acabada, acabou "me adotando" como filha. Juntas, tentamos suportar aquela perda. Um ano depois, as lembranças ainda eram tão fortes que D. Margarida (mãe de Eduardo) resolveu mudar dali. Não tive mais notícias.
Buscando forças, tentei me reerguer novamente. Estava ficando difícil lidar com tantas perdas. Resolvi passar um período aproveitando literalmente a minha vida. Mas no meu aniversário de 14 anos, minha avó sofreu um derrame. Essa situação a deixou encamada. Nenhum de seus filhos quiseram dar-lhe assistência e coube a mim o dever em cuidar de sua saúde. 5 anos mais tarde, depois de toda dedicação que pude dar-lhe ela morreu. Dessa vez não sofri. Nestes anos que passei ao lado dela, percebi que a doença definha a pessoa, não sei se no fim ela sabia quem eu era. Amava-a muito para ver ela sofrendo e se acabando a cada dia.
Da sua morte descobri que seus bens tinham ficado para mim, porque boa parte era herança dos meus pais. Já tinha idade para cuidar de mim mesma e do que era meu. Mas parece que a família não concordava com isso. Eles, literalmente, me esmagaram. Fizeram de tudo para me deixar sem nada. Acredito que até compraram o advogado que eu havia contratado para me defender. 
Não era a ideia de ficar sem nada que me deixara mal. O que me adoeceu foi não reconhecer mais os meus tios. Como eles mudaram. Eles não permitiram nem mesmo lidar com a minha dor. Comecei a acreditar o quanto as pessoas são desumanas. Isso foi me deixando mal. Tinha medo de tudo e de todos. Não queria ver mais ninguém. Não queria sofrer por mais ninguém. Neste momento, eu não era mais nada.

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