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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Marluce

Eu sempre me senti assim, estranha. Existe momentos que sofro, em outros me sinto fracassada. Muitas vezes parei para pensar o que me fazia sentir assim. Não tenho respostas, talvez se tivesse tido, teria mudado ou talvez não. Na realidade nunca se sabe.
Minha vida foi sempre sombria. Parece que já nasci assim, com um ar de nostalgia misturada com sofrimento. Não me lembro de ter conhecido a minha mãe. Cresci sem que meu pai falasse dela. Na realidade ele nunca falava sobre nada comigo, ele não tinha nada a me dizer, nem carinho ele conseguia me dar. Quando tinha dois anos, ele arrumou uma mulher, o nome dela era Madalena, acredito até, que ela tentou se aproximar de mim, mas desde pequena nunca a aceitei. Transformei a vida dela num verdadeiro inferno e logo quando o meu pai morreu, ela me deu para adoção.
Aos 11 anos já tinha passado por 4 famílias. Eu não suportava ninguém e com certeza ninguém me suportava. Desprezei tudo que tentaram fazer por mim. Na última vez quando fui para um lar de adoção, fugi. Achei ser o certo a fazer, mas de acordo que os dias iam passando, fui percebendo que estava entrando num caminho sem voltas.
Quantas coisas fazemos para sobreviver? Eu não sabia até começar a fazê-lo. Fiz de tudo. Experimentei de tudo. Sofri por tudo. Talvez o meu maior sofrimento foi não saber nada a respeito de minha mãe. Muitas vezes parei para pensar como ela seria e porque ela teria me largado. O que leva uma mãe desistir de sua própria filha? Pensei muitas vezes sobre isso, até perceber que estava grávida. 
13 anos, grávida, moradora de rua e lutando pela sobrevivência. O que eu poderia fazer? Como sobreviver desta forma com uma criança? Meus pensamentos fervilhavam em minha mente. Não encontrava soluções. Sentia pena de mim a todo instante. Até que num certo momento, percebi que tudo mudara.

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