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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Bruna Mara

Eu sempre fui uma pessoa desesperada pela vida. Sempre fiz besteiras, sempre conheci as pessoas que eram consideradas erradas. Um dia parei para pensar se realmente minha vida era assim. Percebi que todos que entraram na minha vida, entraram por uma razão. Em algum momento eu precisei de cada um, para poder compor a minha vida.
Posso ter feito coisas erradas, mas as pessoas foram as pessoas certas. Infelizmente, não tinha sabedoria naquela época para reconhecer tudo isso. Sabe aquele momento em que você quer aproveitar a vida e faz de tudo um pouco? Era eu. Não havia regras, não havia limites.
Aos 32 anos, me senti muito mal. Achei que era uma gripe e que logo passava, mas infelizmente era mais do que isso. Depois de muitas idas e vindas a médicos, eis que descobri o que tinha: era aids. No início achei que era uma peça que estavam me pegando, depois percebi que o médico falava a verdade. Meu mundo desabou. Como conviver comigo num estado tão deplorável? De quem eu poderia ter pegado? O que a minha família ia dizer sobre tudo isso? Era muita informação para o mesmo dia. E o pior, eu nunca mais poderia ser eu mesma.
De início não conseguia acreditar. Optei por fazer mais dois exames. O resultado era o mesmo. Precisava me cuidar. Mas ao mesmo tempo sabia que a morte me rondava. Não era justo morrer assim. Não era justo viver assim. Me senti uma morta viva. Minha primeira reação foi aproveitar a minha vida o máximo, pelo menos o que restava dela. Depois pensei em me matar. A morte me aliviaria de tanto sofrimento. Comecei a me achar covarde. Sempre fui tão forte e não poderia deixar esta doença me vencer. Lutar por ela? Seria uma opção. Lutar contra o preconceito de todos? Seria outra opção. Nesse momento, me senti fraca. Precisava de ajuda, precisava saber que tinha alguém que acreditava em mim, que sabia que eu poderia. Mas quem? Afastei todos da minha vida para viver a minha vida. Não seria justo agora fazer as pessoas sentirem pena de mim. Não era, com certeza, o sentimento que eu precisava naquele momento. Descobri então, pela primeira vez, que estava só. Era uma luta minha.

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