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domingo, 29 de novembro de 2015

Siga adiante


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"Vai,
e, 
se der medo,
vai com medo mesmo"

Com medo

Eu me sinto com medo.
Com medo de encarar de frente o que vivi,
com medo de enxergar o quanto errei,
com medo de me olhar e perceber que o tempo passou.
Eu me sinto com medo.
Com medo de ver que não consegui,
com medo de confirmar o quanto fui infeliz,
com medo de entender que ele nunca me amou.
Eu me sinto com medo.
Com medo de enxergar que não sou mais a mesma pessoa,
com medo de constatar que sou vítima do meu próprio sofrimento,
com medo de compreender o que não me é compreendido.
Eu me sinto com medo,
com medo dos meus próprios medos,
com medo de seguir adiante,
com medo do que fiz e de quem eu sou.
Eu me sinto com medo,
porque sei que errei
e todo erro têm o seu preço
e não sei se consigo pagar por ele.

sábado, 28 de novembro de 2015

De volta!

Precisei fazer uma viagem e fiquei desconectada. Mas agora estou de volta. Tive a oportunidade de participar de um treinamento, onde tivemos a chance de debater um tema de grande relevância para a nossa realidade: Educação, Pobreza e Desigualdade Social. É muito bom saber que nos próximos meses, estaremos empenhados em trabalhar este tema e tentar fazer a diferença. O que mais gostei foi perceber o quanto a diversidade nos une em um único propósito. Uma equipe seleta, com ideias inovadoras em busca de algumas respostas.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dica do dia

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Ficarei off line por 2 dias, a minha dica é: seja humilde perante as adversidades da vida. A humildade não te faz mais fraco, mas te deixa mais forte para compreender o que muitos ainda não conseguem. #ficaadica#

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Fiquem por dentro

Violência psicológica: parte II

Mais uma vez, um caso de violência psicológica. Essa violência, ela é mascarada porque fere somente quem a sente e a maioria das vezes a vítima não percebe que está sendo violentada. 
A Organização Mundial de Saúde a define como: qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.




Mylla

Mylla é uma garota de 15 anos, estuda e está cursando o segundo ano do ensino médio. Na sexta-feira, tivemos oportunidade de conversarmos e ela me contou um pouco sobre a sua vida. Por ser menor de idade, estou preservando a identidade dela.
Ela normalmente é uma moça alegre, de bem com a vida, estudiosa e amiga de todos. Nos últimos dias, ela tem se isolado, quase não vai às aulas, quando vai, não conversa com ninguém e está sempre com dores de cabeça. O que ela narrou é o quanto ela tem sofrido em casa e este sofrimento causa essa dor que não acaba mais. Ela já foi há vários médicos, fez vários exames e eles nunca encontram a causa.
Perguntei o que ela têm passado e ela me disse que o padrasto a maltrata bastante. Não de forma física, mas psicologicamente. A mãe ao ver o sofrimento da filha, já tentou largá-lo várias vezes, mas o filho do casal, sempre induzido pelo pai, a faz retornar para casa.
Quando a mãe abandona o marido, a Mylla melhora consideravelmente, mas aí a mãe sofre porque está sem o outro filho. É como se tornasse um círculo vicioso. Ao ver o sofrimento da mãe, Mylla retorna para casa e resolve aceitar a situação.
Pergunto a ela se não têm mais ninguém da família com quem ela poderia ficar, ela me diz que não. O pai, ela o conheceu há pouco tempo e ele não demonstra ter interesse em ficar com ela. Os familiares são a favor dela e a querem bem, no entanto a mãe a chantageia dizendo que vive por ela e que as duas têm de ficar juntas. Ela por amar a mãe, prefere sofrer e permanecer ao lado dela. E assim segue a sua vida.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Violência psicológica

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A maioria das vezes, a violência psicológica é mais grave do que a física. Ela não deixa marcas visíveis no corpo, mas a sua interiorização pode causar sérios danos à saúde, podendo chegar à morte. Ela é caracterizada através de agressões verbais, humilhações, rejeições, discriminações, inferiorizações, depreciações, desrespeitos, chantagens, cobranças de comportamentos, etc.
Há quem supere, há quem tome atitudes extremas, há quem não consegue perceber o mal que está sofrendo. A dica é: por mais machucada que se sinta, você precisa reagir. Denuncie ou busque ajuda especializada. Não permita que este mal te aflija.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Ser mãe

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Sem nome

Meu coração estava partido. Havia sido abandonada no dia que meu filho nasceu. Não tinha forças para cuidar daquela criança. Naquele momento que saí do hospital, sabia que ser mãe, não era para mim. E com esse pensamento, deixei a criança ali, na praça. Sem olhar para trás, fui embora. Meu passado, meus erros, minhas lembranças, tudo ficara ali, com aquela criança. Não tive remorsos, só queria ter o direito de recomeçar. E naquele momento eu sei que estava fazendo o que era certo.
Perambulei pelas ruas sem destino. 
Não sabia se ia para a casa dos meus pais, não sabia se ia atrás do Antônio. Não, eu não podia ir atrás do Antônio, afinal ele me deixara. Simplesmente chegou em casa e disse: vou embora e não volto mais. Achei que ele estava brincando, mas quando vi que sua mala estava arrumada, percebi que falava a verdade. Tentei impedi-lo. Nessa hora ele me empurrou para longe dele. Caí. Pude ouvir quando a porta bateu. Neste momento sangrava. Liguei para a emergência e quando percebi já estava no hospital dando a luz a um menino. 
Era engraçado pensar em ser mãe. Não tinha feito planos, aconteceu. No dia que descobri, Antônio ficara emocionado. Durante meses, pensei no nome que daria a ele, caso fosse homem. Foram vários: Roberto, Frederico, Artur, Luis Miguel,...por fim, havia decidido que na hora que eu visse a criança, eu decidiria o nome. Mas não foi assim que aconteceu. Quando o vi, senti tanta raiva que achei melhor não lhe dar um nome e foi assim quando o deixei. Ele não era nada para mim, então porque perder o tempo de lhe escolher um nome?
Como sua vida muda em questões de segundos? Enquanto caminhava, percebi que anoitecia. Não sei por quantas horas andei, mas sei que voltei para onde comecei, a praça. Procurei entre os bancos se o encontrava e nada dele. Neste momento, percebi o erro que cometera. Toda a dor se fez presente, um vazio tomou conta de mim. E com esse vazio, permaneço todos esses anos em busca do meu filho. Não conheço o seu rosto, não sei o seu nome, não sei nada sobre ele. Sofro a cada instante pelo erro que cometi. Achei que poderia recomeçar a minha vida, mas percebo que acabei com ela no momento que desisti de ser mãe.

Ser jovem

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Ser jovem é bom demais,
é não ter compromisso,
é achar que os pais não te entendem,
é se sentir livre,
é achar que a vida gira em torno do seu ser,
é ter amigos eternos,
é achar que o futuro é hoje,
é se sentir injustiçado,
é acreditar que os estudos não tem importância,
é violar as regras,
é descobrir quem você é e a que grupo você pertence.

Esse é o momento,
é o momento de ser jovem,
Como que as pessoas podem não nos entender?
Como cobram algo de nós, que não conseguimos dar?
Como podem nos julgar?
Será que ninguém entende que sou jovem?
O tempo vai passar, preciso aproveitar,
essa é a minha vida,
vocês não precisam entender, 
apenas me aceitar,
sou jovem e um dia tudo vai mudar,
vou precisar de crescer e ter de amadurecer.
quanto tempo ainda irei aproveitar?

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Dica do dia

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Cativar

Muitas coisas aconteceram nestes últimos dias, meus sentimentos foram contraditórios, mas tudo têm valido a pena. Sabe quando parece que tudo vai dar errado, que seu coração está a mil, mas seus planos são tão certos, que no final tudo se encaixa? É assim, que tem sido a minha vida nestes últimos dias.
Voltei a me engajar num projeto social. Adoro projetos sociais. Na realidade, seria melhor se as pessoas não precisassem destes projetos, se todos fôssemos auto-suficientes, mas infelizmente, não funciona assim.
Lembro que desde adolescente, passava horas dentro de um orfanato na minha cidade. Amava aquelas crianças e adorava fazer o dia delas valerem a pena. Muitos anos se passaram e tive a oportunidade de onde estou, conhecer um grupo que desenvolve este projeto aqui na cidade, o trabalho delas têm surtido um bom efeito nestas crianças. 
É impressionante, como estas crianças (0-11 anos) têm a capacidade de nos surpreender. É muita alegria, é muita energia, é muito amor que elas têm para dar. A capacidade de se superarem a cada dia é maravilhoso e de amarem, mesmo a quem não lhes deu amor. Não há raiva, não há rancor, só amor.
Não estou aqui para julgar o motivo que cada uma delas foi abandonada pela família, afinal cada um responde pelos seus atos, mas é uma benção tê-las em minha vida. Elas são singulares, companheiras, sonhadoras, enfim, elas são crianças e sabem ser crianças. 
Já estou fazendo planos para a próxima ida. Pena que é só uma vez por mês. Mas neste um mês que tenho antes de ir novamente, vou correr atrás do que pretendo levar para elas de presente de Natal. Já fico imaginando o rostinho de felicidade. É muito gratificante.

sábado, 14 de novembro de 2015

Em luto

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Esta semana não está fácil.
Quantas perdas, quantas tragédias,
quantas famílias perderam as pessoas que amavam?
Minas, França, Japão, Síria,
crianças, jovens, adultos, idosos,
muitos se foram, sem ter a chance de um último adeus.
Talvez, se soubessem que aquele teria sido seu último dia,
o que teriam feito de diferente?
Talvez nada, talvez tudo.
A incerteza fica, mas a dor,...
a dor...esta permanece.
#mesentindosolidária#

Observação sobre o post de ontem

Sobre o post do supermercado até onde sei estava errada. Não era desespero. Não era nada relacionado a casa ou família da menina. Era simplesmente, vontade de roubar. É estar com amigas que deram a ideia e ela aceitou.
Aí pensei: a gente cria expectativas em cima de pessoas que nem conhecemos e sem motivo, acaba nos decepcionando. 
Fiquei pensando o que essa menina me responderia e com certeza seria o seguinte:
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Bem, diante disso, não sou daquelas que acredito naquela velha estória: diga com quem andas, que eu direi quem és. Não acredito nisso. Ninguém nessa vida é forçado a nada. Cada um faz o que quer e o que lhe convém.

Pensativa

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E hoje eu me encontro assim...pensativa.
E neste momento é como se as palavras esvaíssem
Por isso serei fiel ao meu eu, hoje ficarei apenas na reflexão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Roubo em supermercado

Há 3 dias, três alunas de uma escola pública perto de onde moro, foram pegas roubando o supermercado do bairro. Esta história foi alvo de muitas críticas. Todos queriam saber quem eram estas alunas, mesmo porque no momento do crime estavam uniformizadas, mas ninguém em nenhum momento perguntavam o porquê do roubo?
Paralelamente, tive a oportunidade de conhecer pessoas que estavam no supermercado no momento do crime. Disseram que foi muito constrangedor, a polícia revistando as garotas, as mochilas e elas sendo levadas de lá. Uma outra pessoa que conheço, me disse que também estava lá e que viu as meninas fazendo compras. Parece que o que ocorreu foi o seguinte: elas entraram no supermercado, pegaram um carrinho de compras, estavam com uma lista do que precisavam comprar, só que ao invés de passarem com as compras, quando finalizaram, guardaram tudo dentro das mochilas.
Fico pensando: uma das garotas, eu sei quem é. Não posso dizer que "coloco a minha mão no fogo por ela", porém, pelo que vejo, ela é uma pessoa calma, retraída, extremamente tímida. Antes de continuar, quero deixar claro que sou totalmente contra roubos, ninguém tem o direito de usurpar o que é dos outros, mas fiquei tentando imaginar o que passou na cabeça dela.
Posso estar completamente errada, mas acredito que só pode ser desespero. Essa menina deve estar sem nada em casa. Volto a dizer: mesmo ela estando sem nada, não é motivo de ir ao supermercado e pegar o que precisa sem pagar. Temos que dar conta dos nossos atos e acredito que ela deve responder um processo, porém, se ela precisa de algo ou se sua família está sem nada, não deveriam pedir ajuda?
Por isso, penso que ela deve ter agido de forma desesperadora. Hoje, vou ver se tenho a oportunidade de descobrir o que realmente aconteceu. Vou estar com ela. Não sei se é correto abordá-la, mas realmente acho que o ato em si, é um grito por ajuda. Se souber de algo, conto para vocês no próximo post.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Transgênero

Segundo a wikipédia: transgênero é um conceito abrangente que engloba grupos diversificados de pessoas que têm em comum a não identificação com comportamentos e/ou papéis esperados do sexo biológico, determinado no seu nascimento. Esses grupos não são homogêneos dado que a não identificação com o gênero de nascimento se dá em graus diferenciados e refletem realidades diferentes.
A família é a base de tudo. Acredito que por pior que seja o problema que enfrentamos, quando há apoio de quem confiamos, nos sentimos fortes e seguimos adiante. A falta de entendimento dos que nos cercam, acaba nos violentando. Ou psicologicamente, ou sutilmente, ou até mesmo de forma física, chegando em alguns casos, até a morte.
Independente da forma que seja, todo tipo de violência nos causa desequilíbrio, sofrimento, constrangimento e muita dor. Respeitar o próximo, independente da forma que seja, é o primeiro passo para transformarmos a sociedade e a nós mesmos..
Resultado de imagem para respeito #respeitonãotempreço#

Dayanne

Sempre fui uma pessoa calada. De poucos amigos e de poucas atitudes. Nunca me vi como as pessoas me viam. Sabia que era diferente. Eu me sentia assim. É estranho perceber como as pessoas nos forçam a ser quem não somos. No início, até acreditei que as pessoas estavam certas, mas com o tempo percebi que não. Viver assim, escondida, era horrível. Me sentia parte de uma outra vida. Meus pais não me entendiam, não aceitavam enxergar quem eu me tornava. Meus colegas me evitavam. Aprendi com o tempo, a fazê-los rir. Eles pareciam gostar do que eu fazia, mas por dentro, eu me sentia uma verdadeira palhaça. Daquele tipo que precisa de uma plateia para prosseguir.
Com o tempo, não tive outra opção, a não ser sair de casa. Precisava respirar. Precisava ter um lugar onde me sentia bem. Nunca consegui realmente me sentir bem. Tem coisas que a gente não escolhe. A vida acaba nos impondo peças difíceis de resolver.Trabalhar nossos sentimentos. Impôr nossos desejos, mostrar quem somos, fazer nossas escolhas, lutar para ser aceita,..., são muitos os caminhos e eu não sabia a força que tinha.
Comecei a conviver com pessoas iguais a mim, que passavam pelos mesmos problemas. Não falávamos dos nossos conflitos internos, fingíamos ser felizes e por um tempo até acreditamos que éramos. O pior de tudo que passei, foi o preconceito. Esse, eu não conseguia driblar. Alguns fingiam que me aceitavam, outros realmente não aceitavam. Me sentia a própria aberração. Imagino se as pessoas não tem sentimentos? Eu tenho sentimentos. E lidar com tanta rejeição não é fácil. Tem que ter muito preparo e bastante atitude e isso eu não tinha.
Um dia, percebi que não tinha mais nada. Na realidade, nunca tive. Meus familiares não queriam saber de mim. Não tinha ninguém na minha vida que realmente me amava como eu era. Acredito que nem eu. É muita dor. É muita solidão. Estar com muitos e não ter ninguém. Que sentimento horrível.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sobreviver

Darwin já dizia que: "não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Mas o melhor que se adapta às mudanças."

Penso que: antes sobreviver do que perder a coragem de viver.

Aline

Na minha casa parece que nascemos para sofrer. O estranho é que com tanto sofrimento, sempre vi a minha mãe de uma maneira diferente, era como se ela não sentisse ou percebesse as coisas da forma que aconteciam.
A minha mãe perdeu os pais muito nova. Foi trabalhar em casa de família desde pequena e sempre foi muito humilhada. Aos 15 anos conheceu o meu pai com quem foi morar. Teve seis filhos e logo depois que o meu irmão caçula nasceu, meu pai a largou. Aos 26 anos, minha mãe só tinha a gente e mais nada. Nesta época, não tínhamos nada. Meu pai trabalhava e mantinha as despesas da casa. Com a ausência do meu pai, não tínhamos o que comer.
Luis tinha 9 anos, Bernadete 8 anos, eu tinha 6, Lúcia tinha 4, Vanda tinha 2 e Marcos tinha 10 meses. Morávamos numa casa com dois cômodos e comida quase não tínhamos. A maioria das coisas eram ganhadas. Vivíamos com o que as pessoas queriam nos dar. Mamãe nessa época começou a dar faxinas. Bernadete era responsável por nós enquanto mamãe trabalhava. 
Com o primeiro dinheiro, mamãe comprou umas guloseimas para o Luis vender no farol. Era tudo muito pouco, mas mesmo com pouco, ela fazia de tudo para cuidar da gente. Um dia, lembro que veio uma assistente em nossa casa. Ao verificar tudo como estava, tivemos que ir com ela. Ficamos alguns anos vivendo num orfanato. 
Mamãe sempre que podia, ia nos visitar. Não havia um dia que ela dizia que iria nos buscar. O tempo foi passando e nada de diferente acontecia. A esperança foi acabando. Quando tinha 14 anos, recebi a notícia que minha mãe adoecera e que havia morrido. Lembro que chorei muito. A dor era tão insuportável, que planejei a minha fuga. Me sentia tão só.
Um dia, depois de muito planejar, consegui fugir. Corri tanto, mas tanto, que só parei quando achei que não seria mais encontrada. Morei muitos anos na rua. Continuava vivendo de favores dos outros. Aos 16 anos conheci Arnoldo, ele também era morador de rua. Não sei o que sentia, mas a ausência de tudo me fez ficar com ele. Não o amava, mas a presença dele do meu lado me fazia bem. 
A minha vida foi assim: vivendo. Não tinha planos, não tinha sonhos e vivia um dia de cada vez. Não sabia o que era ser feliz. Senti a dor da perda desde nova e nunca soube o que era ganhar, o que era ter, o que era conquistar. Aprendi a sobreviver e isso bastava.

Finalizando a pesquisa

O presente trabalho permitiu mostrar que a família patriarcal está sendo alterada por arranjos familiares alternativos, porém, ainda não são considerados pela sociedade como famílias.
As transformações ocorridas na sociedade nestas últimas décadas alteraram significativamente o modelo comportamental das mulheres, modificando suas relações familiares.
Dentro deste contexto, as entrevistas realizadas com famílias monoparentais quilombolas femininas, nos revelou que: as mulheres ainda assumem a responsabilidade pela gestão do seu lar (sendo responsáveis pelo provimento e educação de seus filhos) e que a participação consanguínea só ocorre em casos de maiores necessidades onde a intervenção deles se faça necessária.
O trabalho para elas é o fator principal, pois é o meio necessário que elas têm para ganhar a vida e sustentar sua família. Para elas, os problemas enfrentados como chefe da casa é o de assumirem sozinhas as responsabilidades do lar.
No que concerne o valor que elas têm para transmitir a seus filhos, ainda é o estudo que tem importância fundamental para conquistar algo melhor na vida, apesar da grande dificuldade que elas têm de darem um ensino com qualidade.

Espera-se com este estudo ter proporcionado uma visão da realidade que estas famílias quilombolas monoparentais femininas têm enfrentado nestes últimos anos.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Educação para os filhos

De acordo com a historiografia, uma forma da mulher mostrar se é boa mãe, é a forma como ela conduz a educação de seus filhos. Seguindo as normas de sua época, as imposições dos seus maridos e as regras vigentes pela sociedade, as mulheres obedeciam cegamente a estes preceitos para não serem consideradas mães relapsas.
Com as mudanças ocorridas nos papéis sexuais, com a emancipação da mulher no mercado de trabalho, com a sua independência econômica e com o número crescente de famílias monoparentais femininas, a mulher passou a assumir a responsabilidade pelos valores aprendidos pelos filhos.
Desse modo, buscou-se descobrir quais os valores que essas mulheres acreditam que são importantes para transmitirem aos seus filhos.
“Eu pareço mais uma amiga do que mãe. Tento deixá-los a parte de tudo que acontece comigo: meus relacionamentos, minhas raivas, minhas dúvidas. Mostro para eles a importância do estudo e a busca pelo que eles acreditam”. (Tereza)

“Acredito que respeitar as pessoas e buscar um emprego digno é o mais importante. Meu filho acabou de se formar no ensino médio e quer constituir família logo, então ele precisa de um bom emprego para dar conta.” (Glória)

“Meu filho é muito novo e está na creche ainda. Não parei para pensar no que quero para ele, talvez estar numa religião e continuar estudando, sei lá...De qualquer forma, sei que tenho a minha mãe para me orientar.” (Lurdes)


Percebe-se que o elemento central na criação dos filhos e na rotina diária ainda é a mãe, tentando transmitir para eles o que elas acreditam ser o melhor. O ponto principal abordado por elas é o estudo para se qualificarem na vida quando forem atrás de um bom emprego e constituírem uma vida mais estruturada financeiramente no futuro.

Sendo chefe de família

Um dos pontos mais difíceis para as entrevistadas é o tocante a chefia familiar. Aqui serão abordados, alguns fatores dificultadores, que foram expressos por elas:
“Para mim todo o processo foi difícil: educa-los, cuidar dels na hora das doenças, dar o de comer, o de vestir, tentar manter um padrão que o pai dava foi quase impossível. Estar com eles, cuidar da casa, lavar, cozinhar, estudar e correr atrás do dinheiro para pagar as contas. Sinceramente tinha dias que ia dormir e achava que no dia seguinte não ia ter forças pra me levantar.” (Tereza)

“Eu ainda tenho esperança de voltar com o meu marido. Eu sinto falta dele. Parece que estou vivendo um pesadelo e que na hora que eu acordar, tudo vai ser diferente. Estou tratando com um médico para aceitar toda essa mudança na minha vida.” (Lurdes)

“Toda situação é difícil no início, depois a gente acaba se acostumando. Eu juntei, separei, voltei e hoje sou viúva. O que posso fazer? Acostumar com a situação e seguir em frente.“(Glória)

A historiografia nos mostra que a submissão da mulher ao homem, no modelo patriarcal existente há séculos, através: do Estado, da religião, da educação e da forma de se portar perante a sociedade; dificulta ainda, nos dias de hoje, a mulher tomar decisões no que concerne a sua nova estrutura familiar.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre o trabalho

Glória trabalhava de doméstica antes e num certo momento durante o casamento. Depois que se separou conseguiu um emprego de carteira assinada e hoje é auxiliar de serviços gerais numa escola da rede pública. Sobre o significado do trabalho responde:
“O trabalho me faz bem, mata a minha solidão e me deixa feliz de saber que consigo pagar as minhas contas. Colocar comida em casa e poder dar o mínimo de conforto para o meu filho é o mais importante.”
Lurdes trabalha todos os dias. Quando não vende bombons pelas ruas, está fazendo encomendas para aniversários. Por esse trabalho costuma ter uma renda de R$ 1.000,00 (hum mil reais) mensais.
É um pouco cansativo, porque faça chuva ou faça sol eu preciso andar muito pra conseguir vender bem. Vou de loja em loja oferecendo.”
A respeito de conseguir outro emprego, responde:
“Já pensei em tentar um emprego no Rio e deixar meu filho com o pai. Mas não sei se seria bom pra ele ficar sem mim. Arrumar um emprego aqui, eu trabalharia o dia inteiro pra ganhar um salário e para mim não compensa.”
De sacoleira para advogada, esta é a nova profissão de Tereza. Ainda não tem carteira de trabalho, nem uma renda fixa.
“Trabalhei como estagiária em direito, mas era de graça. Preciso estudar para fazer o exame da ordem, aí sim, daqui uns anos vou ganhar o que quero.”

As estratégias utilizadas para a sobrevivência de cada família são muitas e vão de acordo com as suas ambições.

Os trabalhos informais são os meios que elas encontraram para sustentar sua família. Desse modo, elas abrem mão de um horário fixo e trabalham com um horário flexível para atender seus clientes e garantir dessa forma um orçamento melhor para a sua sobrevivência e de seus filhos.

Sobre a participação da família

Entende-se por participação na família, o auxílio dado pela família materna seja em forma financeira, cuidados com os filhos, ajuda com os alimentos, entre outros.
No depoimento de Lurdes, percebe-se uma maior presença de familiares que participam e auxiliam na dinâmica familiar feminina. Nesse relato a ajuda de sua mãe (avó da criança), torna-se central, suprindo as necessidades na ausência da mãe quando está sai para trabalhar e buscar o sustento de sua família.
“Morar no mesmo terreno que a minha mãe me ajuda em tudo. Almoçamos na casa dela e quando não posso, ela fica com meu filho.”
Glória aponta em seu depoimento a limitação dessa ajuda, mesmo porque ela abdicou do seu profissional para cuidar de seu filho na infância e neste período ela encontrava-se unida ao seu cônjuge.
“Aos oito anos, meu filho já sabia cozinhar, arrumar casa, ir ao mercado e pra escola. Muitas vezes, tive que que deixar ele sozinho em casa, para trabalhar. Sei que é errado, mas precisava comer.”
Tereza não foi criada pela mãe, que foi embora quando ainda era pequena. Nunca teve contato com o pai e quem a criou foi a avó materna. Como a avó vive em outro Estado, a criação de seus filhos dependeu dela mesma. Em momentos de extrema necessidade, os filhos iam para a casa do pai.
Minha mainha é muito boa para mim, mas mora muito longe. Tudo que eu preciso dentro das possibilidades dela, ela me ajuda. Nas férias, meus filhos vão sempre para lá. Ela é muito importante na nossa vida.”

Deste modo, percebemos que nem sempre o familiar encontra-se disponível ou a vontade de ajudar: seja pela distância da moradia, por ordem pessoal ou financeira. O fato é que quando a família solicitante não recebe o apoio para atender as necessidades momentâneas, observamos uma precoce emancipação na educação dos filhos, podendo surgir uma situação de risco.

domingo, 8 de novembro de 2015

Resultado da pesquisa

Para resguardar a identidade das mulheres quilombolas monoparentais entrevistadas e que relataram a sua experiência, daremos o nome de Glória, Lurdes e Tereza. Faremos um pequeno resumo sobre a história de cada uma das entrevistadas, apresentando aqui seus pensamentos sobre sua origem, instrução, casamento, separação e sua relação com o trabalho.
Família G
Glória, 38 anos, reside com seu filho de 20 anos. Trabalhava como servente de uma escola, de segunda a sexta-feira. Seu filho George acaba de completar o ensino médio e está iniciando um trabalho.
Quando tinha 16 anos, ela estava namorando e engravidou. O pai da criança trabalhava na plantação de cana e desde anunciado a gravidez, Glória que morava com sua mãe, decidiu ir morar com ele.
Ela largou na época o trabalho de doméstica e por longos anos dedicou-se ao marido (que era muito ciumento) e a criação de seu filho.
Logo após o filho tornar-se independente no conceito dela, ela voltou a trabalhar, gerando grande conflito com seu companheiro. Com sentimento de posse em relação a ela, iniciaram-se os desentendimentos que afetaram a relação entre os dois.
Apesar de viverem por um tempo separados, ela tentou reatar o relacionamento, pois dentro dos conceitos que ela havia aprendido: “a união entre um casal deve durar até que a morte os separe.”
Há dois anos, por motivos não explanados por ela, o seu cônjuge veio a falecer e ela se encontra na condição de viúva e gestora do lar. Atualmente, retornou os estudos e está completando a terceira série.

Família L
Lurdes, 22 anos, é chefe de família há quase três anos, desde que seu parceiro, Lauro, com o qual morou por quatro anos, abandonou-a indo morar sozinho e aproveitar o seu estado de solteiro. Possui um filho de 6 anos.
Lurdes mora com seu filho em uma casa de cinco cômodos, porém, no mesmo terreno de sua mãe.
Exerce a função de vendedora de bombons, trabalhando em casa na parte da manhã e indo vendê-lo na rua na parte da tarde. No momento, parou com os estudos.

Família T

Tereza está desempregada e possui dois filhos: Tiago de 17 anos e Tadeu de 16 anos. Reside numa casa alugada pelo seu ex marido. Tereza morou com seu esposo durante onze anos. A separação ocorreu devido o marido envolver-se com outra mulher, com a qual mora até os dias atuais. Vivendo como sacoleira por alguns anos, concluiu a faculdade de direito e hoje procura por um emprego na área.

Analisando a trajetória de vida de cada uma destas famílias, percebe-se que todas já vivenciaram a configuração de família nuclear.
Cada história possui a sua particularidade, porém, todas apresentam a mesma experiência: são responsáveis pela manutenção de suas unidades domésticas.

No post de amanhã será apresentada as falas dos sujeitos da pesquisa, buscando fazer uma transcrição literal das entrevistas.

Quilombo São Mateus - ES

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Metodologia

Para a realização deste trabalho, realizou-se inicialmente a pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica foi fundamental para sua estruturação pois é baseado em:
um apanhado sobre os principais trabalhos científicos já realizados sobre o tema escolhido e que são revestidos de importância por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes. Ela abrange: publicações avulsas, livros, jornais, revistas, vídeos, internet, etc. Esse levantamento é importante tanto nos estudos baseados em dados originais, colhidos numa pesquisa de campo, bem como aqueles inteiramente baseados em documentos”. (LUNA, 1999)
Para adentrar no cotidiano vivido pelas famílias monoparentais femininas no Quilombo, procurando captar a vivência cotidiana, utilizou-se a pesquisa qualitativa, pois esta descreve segundo Richardson (1999, p.80): “a complexidade de determinado problema, analisando a interação de certas variáveis, compreendendo e classificando processos dinâmicos vividos por grupos sociais.”
Como técnica de coleta de dados utilizou-se a entrevista, que segundo Haguette (1997:86) define como um “processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado.” A entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo.
Foi utilizado um roteiro de perguntas (Anexo I), instrumento facilitador e orientador da entrevista, contendo questionamentos que delineassem o objeto de estudo.
Os sujeitos da pesquisa foram contactados através de contato pessoal, quando na oportunidade explicou-se a finalidade da pesquisa, convidando-as a participar da mesma. As entrevistas foram realizadas na residência das mães chefes de família quilombolas em horário julgado mais oportuno por elas. Vale ressaltar que as respostas foram refutadas sob a ótica destas mulheres entrevistadas.
O sujeito deste estudo segue o seguinte perfil:
família constituída pelo arranjo mãe e filhos,
renda familiar de até dois salários mínimos,
possuir no mínimo um filho,
inicialmente a família nuclear ter sido constituída por pai, mãe e filho em união estável por pelo menos um ano,
separação do cônjuge há pelo menos seis meses,
exercer atividade laborativa fora de casa.

Desse modo, os sujeitos da pesquisa foram constituídos por três mulheres chefes de família escolhidos com base nos critérios acima elencados.