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sábado, 7 de novembro de 2015

Conceituando família

Na Grécia Antiga o termo família era basicamente utilizado para designar um grupo de pessoas que se reuniam duas vezes ao dia; pela manhã e ao cair da tarde em um lar para cultuar seus deuses perto do fogo. Este núcleo era composto por seus cônjuges e descendentes. Segundo Coulanges:
“a antiga língua grega tinha uma palavra muito significativa para designar a família; dizia-se epístion, palavra que significa literalmente aquilo que está perto do fogo.” (2006, p.59)
Na mitologia, o fogo é simbolizado por Héstia, para que uma casa se tornasse um lar, sua presença era solicitada. Quando um casal se unia, a mãe da noiva acendia uma tocha e a transportava diante do casal até sua nova casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar. O segundo ritual acontecia com o nascimento de uma criança que aos cinco dias de vida, era levada ao redor da lareira para simbolizar sua admissão na família.
O fogo sagrado então simbolizava continuidade e ligação, consciência compartilhada e identidade comum. Com Héstia, proteger a lareira é um meio através do qual a mulher coloca a si mesmo e sua casa em ordem.
Com o passar do tempo e devido às mudanças ocorridas na sociedade que os princípios organizadores da família se modificaram e que outros aspectos passam a ter mais relevância na constituição familiar. Segundo Prado (1981):
a família não é um simples fenômeno natural. Ela é uma instituição social variando através da história e apresentado até formas e finalidades diversas numa mesma época e lugar, conforme o grupo social que esteja sendo observado.” (p.12)
Pensar a família como um processo de continuidade e de novos valores culturais foi um processo lento e gradativo. Para Áries, à medida que os tempos vão se passando, mudanças e avanços vão sendo transformados em crises que tendem muitas vezes a valorar o que não era suficientemente valorado em outros períodos.
Percebemos no texto de Áries (1981) que a crise da família está ligada a crise geral da sociedade: “os laços de sangue não constituíam um único grupo, e sim dois, distintos embora concêntricos: a família e a linhagem” (p.211).
A família formada basicamente por cônjuges, onde os laços eram de fácil dissolução. A união dos descendentes da linhagem tinha como objetivo apenas a proteção do bem comum, uma vez que isso não era assegurado por parte do Estado. Entretanto, com a mudança na economia no século XIII, houve redução dos laços de linhagem e renunciou-se à indivisibilidade do patrimônio e a família conjugal voltou a existir, com seus laços mais fortalecidos.
Prado (1981) afirma que: “a família é a instituição mais sólida desde os princípios da era cristã” (p.64). A família, como Instituição, tem o papel de reprodução social, no contexto econômico, cultural, social em que se insere, transmitindo herança cultural de geração a geração. Quando os laços conjugais são fortalecidos através da influência da religião cristã e quando é institucionalizado o matrimônio pela Igreja Católica, o papel da mulher como mãe e esposa passam a ser valorizados. Surge então a família nuclear.
Bruschini (1990) diz que: “na sociedade ocidental moderna predominante de família é um grupo composto de marido, mulher e filhos” (p.37). Quando se aborda o termo família visualiza-se um núcleo composto por pai, mãe e filhos, ou seja, temos em mente o modelo nuclear tradicional que é introjetado pela sociedade, como sendo a correta e o modelo a ser seguido, através de construções ideológicas e míticas que se perpetuam através dos tempos. Porém, nas últimas décadas, essa visão não retrata a realidade na maioria das famílias.
A partir da segunda metade do século XIX, a mulher com um nível econômico mais elevado, começou a participar de forma mais significativa no mercado de trabalho e nas universidades como forma de melhorar seu desempenho profissional. É claro que essa situação não era vista da mesma forma nas camadas mais pobres, que continuavam com pouca qualificação e baixa escolaridade.
Neste período, o casamento passava por grandes transformações, sendo consumado através da livre escolha do seu parceiro e norteado por questões afetivas e emocionais. A família nuclear começa a sofrer mudanças comportamentais. Além de o pai ir à busca do sustento da família, a esposa e os filhos auxiliam nas despesas do lar, inserindo-se no mercado de trabalho e contribuindo de forma significativa na manutenção da família. Altera-se aí, os padrões comportamentais, sociais, econômicos e hierárquicos.
Surge a família contemporânea com novos arranjos familiares, aos quais podemos destacar:
→ reconstituídas: estrutura familiar originada do casamento ou da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem filhos de vínculo anterior. É a família na qual um dos adultos;
→ constituídas através de uniões livres: é a comunhão de leitos, assumida de forma não compromissada, sem a ideia da permanência ou o objetivo de constituição de uma família;
→ monoparentais femininas: não detêm a presença cotidiana do cônjuge masculino;
→ monoparentais masculinas: constituição familiar que tem a presença paterna como gestora;
→ parentes consanguíneos: consiste na família nuclear, mais os parentes diretos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos.
Com estes novos arranjos familiares, observamos no final do século XX, grandes transformações familiares, tais como: a redução do número de casamento civis, o aumento do número de divórcios, a diminuição do número de filhos, o aumento da mulher inserida no mercado de trabalho, a instabilidade conjugal e a divisão sexual dos papéis.

Mesmo com tantas transformações dentro do contexto familiar, observamos que ainda é feita de forma vagarosa e progressiva, o modelo da família patriarcal burguesa ainda é predominante na mente da nossa sociedade e com isso, podemos observar que as famílias que não fazem parte deste modelo idealizado, tentam estruturar-se ao arranjo familiar ideal, pois muitos ainda acreditam que a sua família é socialmente errada.

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