Na
Grécia Antiga o termo família era basicamente utilizado para designar um grupo
de pessoas que se reuniam duas vezes ao dia; pela manhã e ao cair da tarde em
um lar para cultuar seus deuses perto do fogo. Este núcleo era composto por
seus cônjuges e descendentes. Segundo Coulanges:
“a
antiga língua grega tinha uma palavra muito significativa para designar a
família; dizia-se epístion, palavra que significa literalmente aquilo que está
perto do fogo.” (2006, p.59)
Na
mitologia, o fogo é simbolizado por Héstia, para que uma casa se tornasse um
lar, sua presença era solicitada. Quando um casal se unia, a mãe da noiva
acendia uma tocha e a transportava diante do casal até sua nova casa, para que
acendessem a primeira chama em seu lar. O segundo ritual acontecia com o
nascimento de uma criança que aos cinco dias de vida, era levada ao redor da
lareira para simbolizar sua admissão na família.
O
fogo sagrado então simbolizava continuidade e ligação, consciência
compartilhada e identidade comum. Com Héstia, proteger a lareira é um meio
através do qual a mulher coloca a si mesmo e sua casa em ordem.
Com
o passar do tempo e devido às mudanças ocorridas na sociedade que os princípios
organizadores da família se modificaram e que outros aspectos passam a ter mais
relevância na constituição familiar. Segundo Prado (1981):
“a
família não é um simples fenômeno natural. Ela é uma instituição social
variando através da história e apresentado até formas e finalidades diversas
numa mesma época e lugar, conforme o grupo social que esteja sendo observado.”
(p.12)
Pensar
a família como um processo de continuidade e de novos valores culturais foi um
processo lento e gradativo. Para Áries, à medida que os tempos vão se passando,
mudanças e avanços vão sendo transformados em crises que tendem muitas vezes a
valorar o que não era suficientemente valorado em outros períodos.
Percebemos
no texto de Áries (1981) que a crise da família está ligada a crise geral da
sociedade: “os laços de sangue não constituíam um único grupo,
e sim dois, distintos embora concêntricos: a família e a linhagem” (p.211).
A
família formada basicamente por cônjuges, onde os laços eram de fácil
dissolução. A união dos descendentes da linhagem tinha como objetivo apenas a
proteção do bem comum, uma vez que isso não era assegurado por parte do Estado.
Entretanto, com a mudança na economia no século XIII, houve redução dos laços
de linhagem e renunciou-se à indivisibilidade do patrimônio e a família
conjugal voltou a existir, com seus laços mais fortalecidos.
Prado
(1981) afirma que: “a família é a instituição mais sólida desde
os princípios da era cristã” (p.64). A família, como
Instituição, tem o papel de reprodução social, no contexto econômico, cultural,
social em que se insere, transmitindo herança cultural de geração a geração.
Quando os laços conjugais são fortalecidos através da influência da religião
cristã e quando é institucionalizado o matrimônio pela Igreja Católica, o papel
da mulher como mãe e esposa passam a ser valorizados. Surge então a família
nuclear.
Bruschini
(1990) diz que: “na sociedade ocidental moderna
predominante de família é um grupo composto de marido, mulher e filhos” (p.37).
Quando se aborda o termo família visualiza-se um núcleo composto por pai, mãe e
filhos, ou seja, temos em mente o modelo nuclear tradicional que é introjetado
pela sociedade, como sendo a correta e o modelo a ser seguido, através de
construções ideológicas e míticas que se perpetuam através dos tempos. Porém,
nas últimas décadas, essa visão não retrata a realidade na maioria das
famílias.
A
partir da segunda metade do século XIX, a mulher com um nível econômico mais
elevado, começou a participar de forma mais significativa no mercado de
trabalho e nas universidades como forma de melhorar seu desempenho
profissional. É claro que essa situação não era vista da mesma forma nas camadas
mais pobres, que continuavam com pouca qualificação e baixa escolaridade.
Neste
período, o casamento passava por grandes transformações, sendo consumado
através da livre escolha do seu parceiro e norteado por questões afetivas e
emocionais. A família nuclear começa a sofrer mudanças comportamentais. Além de
o pai ir à busca do sustento da família, a esposa e os filhos auxiliam nas
despesas do lar, inserindo-se no mercado de trabalho e contribuindo de forma
significativa na manutenção da família. Altera-se aí, os padrões
comportamentais, sociais, econômicos e hierárquicos.
Surge
a família contemporânea com novos arranjos familiares, aos quais podemos
destacar:
→
reconstituídas: estrutura familiar originada do casamento ou da união estável
de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem filhos de vínculo
anterior. É a família na qual um dos adultos;
→
constituídas através de uniões livres: é a comunhão de leitos, assumida de
forma não compromissada, sem a ideia da permanência ou o objetivo de constituição
de uma família;
→
monoparentais femininas: não detêm a presença cotidiana do cônjuge masculino;
→
monoparentais masculinas: constituição familiar que tem a presença paterna como
gestora;
→
parentes consanguíneos: consiste na família nuclear, mais os parentes diretos
ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para
avós, pais e netos.
Com
estes novos arranjos familiares, observamos no final do século XX, grandes
transformações familiares, tais como: a redução do número de casamento civis, o
aumento do número de divórcios, a diminuição do número de filhos, o aumento da
mulher inserida no mercado de trabalho, a instabilidade conjugal e a divisão
sexual dos papéis.
Mesmo
com tantas transformações dentro do contexto familiar, observamos que ainda é
feita de forma vagarosa e progressiva, o modelo da família patriarcal burguesa
ainda é predominante na mente da nossa sociedade e com isso, podemos observar
que as famílias que não fazem parte deste modelo idealizado, tentam estruturar-se
ao arranjo familiar ideal, pois muitos ainda acreditam que a sua família é
socialmente errada.
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