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domingo, 29 de março de 2015

Antônia

" Quando saí de casa, estava muito feliz. Era o que eu mais desejava. Tinha 16 anos era a caçula de 5 irmãos e sempre acreditei que não recebia nenhum amor da minha família, achava que a minha existência era mais um entrave na vida deles do que alegria. Aos 14 anos quando saía da escola conheci um rapaz que dois anos mais tarde se tornaria o meu marido. Naquela época, era comum casarmos cedo. O meu coração quando o vi, acelerou. Acreditei desde o início que o nosso amor seria para sempre.
Trocamos algumas palavras durante um mês e depois ele quis ir a minha casa pedir os meus pais a permissão para me namorar. Meus pais desde o início gostaram da pessoa que ele mostrou ser. Ele era 7 anos mais velho do que eu e já trabalhava. No dia que começamos oficialmente a namorar minha vida já transformara.
Não podia sair mais com as minhas amigas, tinha que me comportar o dobro do que o normal, passei a ajudar a minha mãe com os enxovais, as tarefas de casa era eu que tinha que executar, pois uma boa mulher era uma mulher prendada. Aos poucos fui deixando de ter uma vida social para viver a vida com o homem que eu tinha escolhido para ser o meu marido.
O tempo passou rápido e quanto mais se aproximava a data do casamento, mais feliz estava, afinal eu o amava. Quando casamos, mudei da cidade onde nasci. Fomos morar no interior porque lá parecia ser um bom negócio para o meu marido prosperar. E realmente foi. Quanto mais ele trabalhava, menos eu o via. Estava me sentindo muito sozinha. Não tinha amigos, não tinha família, morava distante de outras casas e o meu dia se resumia a limpar a casa, lavar e passar roupas, cozinhar e no restante do dia eu costurava. Era a única distração que tinha mas eu não importava, tinha a minha casa e o amava.
Nos fins de semana, ele me levava a missa no domingo e dávamos um passeio pela praça. Aos poucos, fui conhecendo algumas pessoas que moravam na cidade. No decorrer dos meses, ele estava muito feliz, os negócios prosperavam e todo mês ele chegava com uma roupa nova para mim. Na época não percebi que eu já não escolhia as minhas roupas. Eu achava lindo a forma que me vestia, mas quando paro para pensar, parecia que era outra pessoa que estava diante do espelho e não eu. 
Aos 18 parecia que tinha uns 30 anos. Tinha que ser discreta, os tons da minha roupa eram neutras e eu não podia usar batom. Na maioria das vezes  o meu cabelo tinha que ficar preso, em forma de um coque.
Numa das noites percebi que não me sentia bem e logo ele chamou um médico. Era o nosso primeiro filho que estava a caminho. Ele ficou irradiante. Arrumou uma senhora para cuidar dos afazeres da casa porque os meus esforços tinham que ser para a criança que estava a caminho. Para mim, apesar dos enjoos e da falta de experiência, amei quando dei a luz ao nosso primeiro filho. Daí em diante a cada ano tinha um. Quando chegou ao quarto filho, disse a ele que não queria mais. Nestes 7 anos que se passaram ainda não havia retornado a minha cidade natal para ver a minha família. Toda vez que tocava no assunto ele dizia que não podia ir me levar até lá porque não podia deixar a loja nas mãos de funcionários. Sozinha eu não podia ir porque era uma senhora casada e que sempre ele buscava notícias e sabia que todos estavam bem."


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