Páginas

sábado, 16 de julho de 2016

Lorena

São tantos questionamentos que vem a minha mente que não consigo ter tempo suficiente para respondê-las. Fico pensando em minha família, como fui capaz de abandoná-la e me culpo todos os dias por tudo que veio acontecer em nossas vidas, após este dia. Fugi de casa aos 16 anos. Me apaixonei. A minha família não aceitava o relacionamento e a única alternativa que encontrei foi fugir. E assim o fiz.
Triste ilusão. Amarga realidade. 
Este jovem que me apaixonei bebia e era usuário. Durante 4 anos que estivemos juntos apesar de achar que foram os melhores de minha vida, descobri que nunca fui amada. Ele me largava para curtir a sua vida e quando chegava em casa, lá estava pronta para recebê-lo e servi-lo. Neste período engravidei e tive dois filhos. Passamos por todos os tipos de problema: passei uma gravidez sozinha, não tínhamos emprego por que o vício que ele tinha não permitia que ele ficasse em lugar nenhum, quanto a mim, no início ele não deixava eu sair de casa, depois não tive como sair com meus filhos tão pequenos.
Um dia não sabendo mais o que fazer, Juliano (meu parceiro) resolveu sair para providenciar algo para nossa casa. No fim do dia ele chegou com comida, roupa para as crianças e uma flor para mim. Achei que meu dia mudaria a partir daquele dia. Ele havia me dito que arrumara um emprego e que ficaríamos bem. Realmente acreditei.
Um ano depois, recebi a notícia da morte de Juliano. Sofri bastante com a sua perda. Não imaginava o que fazer. Estava ali sozinha tendo que criar duas crianças. Por um tempo, recorri a todo tipo de ajuda assistencialista. Não tinha vergonha, precisava sobreviver. Depois, descobri o que Juliano fazia. Sabia que não era certo, mas foi a minha opção, continuar o que ele havia começado e assim o fiz.
Trabalhei uns anos. Neste período descobri que a minha mãe adoecera, que meu pai havia morrido e que a minha irmã se casara. Não tive coragens de me reaproximar. Sabia que a minha conduta os ferira bastante e não queria que ninguém me julgasse.
No aniversário de meu filho, onde o mais velho completava seis anos, resolvi fazer um trabalho extra para garantir sua festa, foi quando descobri que havia entrado numa emboscada. Fui presa. Meus filhos foram levados pela assistente social. Não pude vê-los. O tempo foi passando, meu caso fora julgado e recebi uma pena de 8 anos. 
Fiquei desnorteada. 8  anos exclusa era muito tempo. O que seria dos meus filhos? O que seria de mim? Na cela, meus pensamentos iam e vinham. Relembrei cada instante de minha vida. tive oportunidades de recapitular os meus erros. O tempo não passa. A frieza do lugar te enlouquece. Senti saudades de minha família. Será que eles sabiam onde estava? Será que algum dia eles me amaram? E Juliano com tantas traições, será que ele também me amou? Será que tudo valeu a pena?
Me sentia só. Não tinha respostas. Aliás, até tinha. Mas será que eram as respostas certas? Não sei. Sentia que de acordo que o tempo passava, eu mudava os questionamentos, as respostas. Parecia que pouco a pouco, eu enlouquecia. E meus filhos? Daria tudo para estar com eles, só mais uma vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário