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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Maria Carlota

Eu passei um bom tempo da minha vida sentindo pena de mim. Sempre me considerei aquela criança que era sempre a excluída, depois aquela adolescente que ninguém queria por perto e com esse sentimento me tornei uma mulher amarga.
A minha estória é tão chata e repetitiva que não dá vontade nem de contar. Basicamente quando nova, ajudei a minha mãe a cuidar da casa e dos meus irmãos. Um pouco mais tarde larguei de vez os estudos e comecei a trabalhar para ajudar em casa. Ao me tornar mais adulta minha vida se resumia a bebida, cigarros, trabalho e casa.
Morava com os meus pais. Nesta etapa, meus irmãos se casaram e cada um tomou um rumo na vida. Não tive essa oportunidade. Não conheci ninguém, não amei ninguém e nunca cheguei a viver em grupo. Festas, saídas depois do trabalho, viagens, nada disso era para mim.
Por algum motivo me fechei. Com a morte dos meus pais, com a minha aposentadoria, não precisava de mais nada. Acordava, dormia e quando me lembrava comia. Não atendia nenhuma ligação, não ia mais a lugar algum. Quando alguém chegava na porta da minha casa, fingia que não estava, até que eles desistiam e iam embora.
Eu sempre fui chamada para as festas de família. O que meus irmãos podiam pensar quando me convidavam? Com certeza devia ser algo do tipo: deixa eu chamar aquela solteirona que não tem para onde ir. Esfregar a felicidade deles na minha cara, eu não precisava disso.
Fiz a minha vida como pude. Assistia uma novelinha, ouvia as notícias da cidade pela rádio, tomava “umazinha” depois do almoço e pronto. Essa era a minha vida perfeita. A vida que escolhi. A vida que me dei a opção de viver. E cabia nessa minha vida aguardar o dia que não precisaria mais me levantar.

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