Páginas

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Luciana Helena

Eu sempre fui uma boa observadora, porém eu nunca observava o que acontecia comigo. Sempre reparei nos outros , na vida dos outros, no que os outros tinham, sobre o que falavam, suas conquistas e suas perdas. Comecei tanto a vivenciar o que acontecia a minha volta, que sem perceber já estava fixada na vida da minha vizinha Rafaela.
Rafaela sempre foi ativa, bonita, educada, personalidade forte e sempre sabia o que queria. Gostava tanto de tudo que vinha dela que sem perceber fui me tornando sua cópia fiel. Com o tempo, essa situação foi perdendo o controle. Comecei a me endividar para ter as mesmas coisas do que ela. Buscava todos os tipos de tratamento para ficar parecida com ela. A minha casa era meio que uma cópia fiel da casa dela e com o tempo batalhei tanto que consegui trabalhar na mesma empresa do que ela. Foi aí que tudo saiu do controle.
Eu já não queria ser a cópia, mas a original. E para eu ser a original, eu tinha que eliminar a Rafaela dali. Ela já não me inspirava mais, eu sabia que podia ser melhor do que ela. Com o tempo, eu arquitetei um plano para que ela perdesse o emprego e que eu conseguisse ser promovida ao cargo dela. Depois que ela ficou desempregada, para mim ainda não bastava, eu quis ficar também com o noivo dela. E fiquei. E ela perdeu novamente. Depois da falta de emprego, do rompimento do noivado, aos poucos ela foi perdendo tudo. Ela não tinha mais meios de se bancar.
Quando ela estava na pior das situações, procurou por mim para pedir ajuda, eu fui categórica em dizer que ela não era nada minha e que eu não devia nada a ela. Depois de algum tempo soube que ela estava com depressão e daí não tive mais notícias dela.
Depois de aproveitar tudo o que conquistei, comecei a me sentir vazia e raras as vezes percebia que tinha tomado um rumo errado na minha vida. Mas, depois eu olhava para tudo que eu tinha e sentia orgulho das minhas conquistas. Com o passar dos anos, comecei a perceber com as coisas que me aconteceram, que havia sim, cometido vários erros, principalmente com a Rafaela. Tentei ir atrás dela, pedir desculpas, tentar ajudá-la, mas já era tarde. Ela já havia morrido. Quando soube deste fato, meu mundo desmoronou. Senti uma culpa terrível e por ironia do destino, tudo que havia adquirido, fui perdendo aos poucos. Quando percebi, já não tinha mais nada. 
Estava sozinha, doente, não tinha mais bens e vivia apenas da aposentadoria. Mas, o pior era o peso da minha consciência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário