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terça-feira, 5 de maio de 2015

Rute

Sempre vivi uma vida cheia de altos e baixos, com certeza mais baixos do que altos. Me casei aos 13 anos, não namorei direito, não o conheci o suficiente e fui direta para o casamento. Com o meu marido, sinto que tive que aprender bem nova a sobreviver. Ele de fato era uma boa pessoa, mas acredito que pela diferença de idade, já que na época ele tinha seus 28 anos, era um pouco intolerante.
Eu ainda me sentia uma criança, apesar da minha mãe desde cedo ter me preparado para o matrimônio, mas nunca é dá forma que você acha. Com menos de um mês engravidei e por aí foram longos anos de maternidade, até que sucessivamente tive 14 filhos. Aos 32 anos o meu filho mais velho já tinha 18 anos. 
Enfrentei muitos problemas: o machismo do meu marido; a quantidade de crianças para alimentar, cuidar e educar; a pobreza em que nos encontrávamos e o que mais me doía, fingir. Fingia o tempo todo. Não podia mostrar aos meus filhos nem a ninguém o que pensava, nem o que sentia. Expor minhas ideias era inadmissível. Eu basicamente tinha como função ser apenas mulher. Uma mulher que tem que zelar pelo seu lar.
Lutar contra mim mesma foi o pior de tudo. Sabia que tinha que ter feito mais. Sabia que tinha que ter me posicionado, sabia que tinha que ter enfrentado os meus medos. Apenas sabia. Mas nada o fiz. Me acomodei numa situação que não defendi os meus verdadeiros princípios. Minha vida escapava pelos meus dedos e eu não me encontrava.

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