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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Carmem

Amanheci. Adorava acordar cedo e ver o sol se pôr. Neste dia, foi diferente. O silêncio da casa me perturbava. Uma sensação de que algo não estava bem. Não sabia o que era, mas resolvi não dar asas a minha imaginação, continuei com o que era de costume.
Saí, fui fazer a minha caminhada matinal. Adorava saber que estava ali e que muitos ainda dormiam. Quando voltei para casa, o silêncio continuava. Comecei a achar que algo errado acontecia. Afinal, nesse momento todos já deveriam estar acordados. Minha mãe fazendo o café, as crianças correndo pela casa, uma algazarra que não acabava mais, até a hora do ônibus buzinas e eles irem para a escola. 
Ouvi o ônibus chegando, a buzina disparara, como não houve retorno, ele acelerara, com certeza estava indo buscar a próxima criança. Meu coração disparara. Não conseguia me movimentar, sabia que algo de errado estava acontecendo. Minhas forças haviam chegado ao fim.
Com muito custo, fui ao quarto dos meninos, neste dia, eu tinha um casal. Lucas com 8 anos e Mariângela com quase 6. Sei que deveria falar que ela tinha 5, mas como ela mesmo dizia: meu aniversário já está chegando mamãe, estou com quase 6 anos. Dito isso, ao abrir, nada. Eles não estavam lá. Nem pareciam que dormiram lá. A cama estava arrumada, tudo estava no seu devido lugar. Fui verificar a janela, trancada. Onde estas crianças poderiam estar? 
Bem, algumas vezes, quando isso acontecia, eu acabava os encontrando no quarto de minha mãe. Resolvi então ir até lá. Sabia que mesmo eles tendo dormindo lá, não justificava estarem dormindo até agora. Minha mãe sempre foi de acordar cedo. Quando abri a porta do quarto, nada. Ela também não se encontrava lá. O quarto também permanecia do mesmo jeito.
Comecei a ponderar o que poderia ter acontecido. Onde eles estavam? Será que algo acontecera? Será que a minha mãe os levara a escola? Não. Ela nunca saía com eles para levá-los a escola. Neste dia não podia ser diferente. A minha caminhada fora rápida, não havia como eu não ter encontrado com eles.
Fui até o meu quarto. Ali era o último lugar que poderia ir na casa. Ao abrir a porta, os três estavam deitados na minha cama. Senti como se eles estivessem exaustos, o sono era profundo. Minha mãe, os abraçava e assim eles dormiram de roupa e abraçados. Senti uma tristeza no ar, não conseguia imaginar o por que deles estarem lá e não conseguia expressar o que se passava dentro de mim.
Comecei a me sentir mal. Precisava respirar. Precisava sair dali. A dor em meu peito me corroía. Aquela imagem deles deitados, me fez parar e pensar o que estava acontecendo. Sei que tive medo das respostas, mas precisava enfrentar os meus sentimentos e descobrir. Só assim poderia seguir adiante.

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