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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Valéria

Sempre fui uma pessoa esquisita. Não por ter traços de esquisitices, mas meu espírito sempre se sentiu assim, como uma estranha no ninho. Sempre me senti isolada, não tinha amigos, gostava do que as pessoas não gostavam e amava ficar trancada no quarto com meus pensamentos.
Meus pensamentos não eram ruins, eram bons. Neles, eu podia vivenciar uma vida que não tinha. Nesse meu mundo eu era animada, feliz, tinha vários amigos, era determinada e não tinha medo de nada. Só que quando dali eu saía, me deparava com uma outra realidade.
Nunca fui uma pessoa aberta, ouvia o que as pessoas me diziam, respeitava a opinião delas, mas não conseguia falar sobre mim. Mas o que falaria? Eu não vivia, eu só sentia. Se eu fosse falar de sentimentos, todos me achariam uma louca.
Aos 16 anos, perdi o meu pai. Aos 18 meu irmão se casou e foi morar numa outra cidade. Na solidão daquela casa, vivíamos eu e a minha mãe. Com meus 22 anos, minha mãe adoeceu, caiu de cama e não se restabeleceu. Vivi por 4 anos cuidando dela. Não arrependo deste momento, sabia que era a minha obrigação. Mas com ela doente, me fechei mais ainda. Antes de completar meus 26 anos, eu a perdi. No fundo não senti muito, pois via o sofrimento dela aumentando cada dia. Sabia que existia amor entre nós, mas nunca demonstramos nossos sentimentos. Éramos uma família fria, mas de bom coração.
Com a morte da minha mãe, me senti perdida. Não sabia que rumo tomar. Não sabia sair da concha que havia criado em todos estes anos. A solidão, como te faz mal. Sempre considerei ser feliz em estar sozinha, mas quando a solidão não é opcional acaba te destruindo.
Na realidade, assim foi a minha vida. Não saía, não tinha amigos, era ajudada por familiares que se preocupavam comigo. Aos poucos fui perdendo contato com eles. Vivia no meu mundo. Tinha medo de sair e de encarar a vida como precisava. Um dia me passou pela cabeça o quanto fui covarde, de não ter aproveitado a vida e arriscado, porém acredito que a minha decisão também foi um ato de coragem. Não é qualquer pessoa que opta por viver no seu próprio mundo.
Não sei responder se foi por preguiça, por vontade, por falta de coragem ou por comodismo. Mas minha vida foi assim. Muitos podem pensar: que vida vazia. Não importa. Também sempre achei a vida de muitos assim: vazia. Então não me importa o que pensam de mim, nem sei se alguém pensa sobre mim. Mas eu penso muito. Ainda vivo um mundo de sonhos e tenho a esperança de um dia conseguir me despertar para a nova realidade, o novo rumo que a minha vida tomou e que eu não quis perceber.

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