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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Glória

Um dia acordei com uma vontade louca de fazer justiça. Sabe quando você passa a sua vida de forma oprimida, reservada, sem amigos e obediente a tudo e a todos?
A minha vida era assim, totalmente sem graça. Na verdade, eu não vivia, era como um robô sendo manipulada por todos que estavam a minha volta.
Neste dia em questão, era meu aniversário. Estava fazendo 23 anos e senti um imenso vazio dentro de mim. Já havia passado alguns dias que eu estava planejando como fazer justiça com as minhas próprias mãos. Talvez, este tenha sido o meu erro.
Levantei determinada. Não dei bom dia a ninguém, nem sei se lembraram do meu aniversário, também não importava, eles sempre foram secos comigo, as festas eram bobas e eu não queria mais fazer parte disso.
Saí. Me lembro perfeitamente o que vestia, para onde ia e o que precisava fazer. Não vou dizer o que pretendia fazer, por que hoje penso que estava num estado anormal quando planejei tal coisa. Mas no momento, era o que eu queria. 
Era um dia ensolarado, 26 de maio de 1998, como disse data do meu aniversário. E a data onde colocou um fim nas minhas loucuras. Passei o dia fora, comprando coisas, arquitetando tudo e quando voltava para casa, num pequeno momento de distração, atravessei a rua e ouvi uma freada. Já era tarde, eu havia sido atropelada. Meus planos acabara ali.
Diante de tudo que se sucedeu, percebi o quanto meus pais me amavam. Até no momento de dor, eles estavam ali. Soube também que eles estavam organizando uma festa surpresa. Por isso, ninguém me parabenizou quando acordei. Eles queriam que eu achasse que haviam esquecido da data. 
Com o tempo, pude perceber que o que a minha família queria era cuidar de mim, evitar que o mal chegasse até mim, faziam tudo por excesso de zelo. Na mente deles, eles estavam me preservando das coisas que estavam acontecendo. Depois, descobri tudo o que se passava. Descobri o quanto eles me amavam e me queriam bem. Chorei. Chorei muito. A minha vida não era mais a mesma. Me senti arrependida, me senti reduzida a nada. Eu não dava valor a nada. Essa falta de valor, era algo que eu criara, que eu mantive e que quase fiz uma grande besteira. 
Não culpo ao motorista que me atropelou. Sei que estava desatenta e que atravessara sem olhar para os lados. No momento eu estava cega, queria vingar das pessoas que me amavam. Hoje, acredito que foi o melhor que pôde ter me acontecido. No momento que me senti debilitada, pude enxergar o que nunca quisera ver: o amor.

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