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sábado, 7 de maio de 2016

Carta de Maria

Há uns dois meses, conheci uma adolescente de 14 anos. Na realidade, eu não a conheci de maneira formal, mas tivemos a oportunidade de conversarmos por telefone e neste período tenho acompanhado o seu empenho em "fazer o bem sem olhar a quem". 
Gostaria imensamente de mostrar a minha gratidão por ter te conhecido, pois através de você, pude relembrar alguns valores que eu tinha e que estavam adormecidos. Lembrei-me de quando era da sua idade como vivia engajada em projetos sociais, amava. Não me importava nem com os dias, nem com os horários, só com as pessoas que queria ajudar. 
Naquela época, amava ir ao orfanato. Conhecia todas as crianças, ensinava para elas teatro, francês e dava o que elas mais queriam, que era amor. Com os anos, reduzi a minha ida lá e passei a me envolver em outro projeto, com adultos que necessitavam de uma refeição consistente. Acordava cedo todos os sábados para ajudar a preparar o almoço destes cidadãos. 
O tempo passou mais um pouquinho e aí, já formada como economista me engajei em desenvolver projetos sociais que poderia contribuir com a melhora dos meus conterrâneos. Junto com uma ótima equipe de trabalho, lembro que conseguimos o resultado dos nossos objetivos.
Um dia desisti de tudo: exonerei do meu cargo, mudei de cidade, abandonei a minha profissão e recomecei. Penso que com os anos, devido a tantas decepções, acabamos perdendo a crença nas pessoas e (ou por preguiça ou por decepção) muito do que fazia, deixei de fazer. 
Na minha nova escolha de vida, tento ajudar de forma mais sensata: sem me envolver, respeitando os sentimentos de quem estão à minha volta e percebendo que todos tem o seu limite e a sua individualidade.
Há alguns meses, percebi que faltava algo "a mais" em minha vida e voltei a ajudar de forma voluntária há algumas instituições. Numa reunião deste grupo, decepcionei-me, pois não senti verdade nos atos. Infelizmente, como é do ser humano julgar, o meu julgamento me fez acreditar que o trabalho apesar de ser muito bonito, não me pareceu verdadeiro, me pareceu uma forma de se posicionar como ser social. Desacreditando nestes projetos, saí. (ainda não definitivamente).
Voltando a esta adolescente, ontem recebi a ligação de sua mãe, me contando sobre o projeto idealizado, realizado e bem sucedido desta menina que denominava o seu trabalho como "Cartas de Maria". Pensando no dia das mães e nas presidiárias que estariam sofrendo com a ausência de seus filhos, ela conseguiu mobilizar várias pessoas para escreverem uma carta para cada uma destas mães. Para muitos, pode parecer algo de criança e achar a ideia boba. Porém, muitos nada fazem e ela o fez. Com muita luta, ela conseguiu a permissão da diretora do presídio, da assistente social, da juíza de infância, mobilizou todo o presídio para a ida dela e no dia de ontem, no horário marcado, ela estava lá.
E foi. Com as cartas e com uma singela lembrança a cada uma das presidiárias, ela levou o que há de mais bonito nela: o amor, a caridade e a pureza de sua ação. Com suas próprias palavras, ela agradeceu a todas por terem dado a oportunidade de estar ali naquele dia, levou palavras de motivação, de esperança, de fé e novamente de amor. Sobre as detentas, não houve a que não se comoveu e todas choraram muito. Não bastando, ela ainda fez questão de abraçar a todas e deixar para cada uma a sua própria mensagem.
(Observação: abraçar para nós é um gesto fácil, mas no presídio por questões de segurança, não é permitido esta ação, mas mesmo assim, sem medo, ela o fez).
O que pretendo dizer é que em algumas vezes (ou ela ou a mãe dela) me ligam e sempre me agradecem por alguma coisa. Na realidade, sou eu que tenho que agradecer, pois no momento em que me senti balanceada a desistir, foi a sua história Bruna que me mostrou que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Obrigada por ter entrado em minha vida, de ter me dado uma nova luz e de saber que ainda podemos fazer a diferença. Parabéns pelo seu empenho e por sua luta. Que seu caminho brilhe cada dia mais.
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