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domingo, 3 de abril de 2016

Beatriz

Muitas coisas acontecem na nossa vida e nem damos atenção a estes momentos. Sempre acreditei ser uma pessoa infeliz, destinada ao fracasso. Nascer numa família sem recursos financeiros, trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da casa, ajudar a minha mãe nos cuidados com meus irmãos mais novos, sempre me fez acreditar o quanto a vida era injusta para mim.
Com todos os meus pensamentos de revolta, não quis estudar, comecei a namorar cedo e aos 15 anos fui morar com o rapaz que achava que amava. Ele era popular no nosso bairro, ganhava dinheiro de forma ilícita, eu sabia a verdade, mas queria viver da forma que acreditava ser o certo.
Aos 16 anos, soube que não era a única “mina dele”. Eu era a original, a escolhida, mas tinha várias por onde ele passava. Meu ciúmes não me deixava enxergar o que era certo, queria ele para mim, não podia perder a chance de dividir com alguém o que achava que era somente meu.
Em meio a minha obsessão, comecei a fazer o que não devia. Seguia-o. quando ele saía dos locais de encontro, eu entrava. Humilhava a garota, batia nela e a ameaçava. Um dia, ele descobriu o que eu fazia, me pegou pelo cabelo, me levou até em casa e me bateu até eu perder a consciência.
Foram questões de segundos ou minutos talvez, porém neste momento, só queria sobreviver. Foi o único momento que pensei em minha família e percebi que da maneira deles, eles me amavam e que da minha maneira nunca amei e nem fui amada pelo homem que dediquei a minha vida.
Lembro que gritei muito, tentei me defender por diversas vezes, mas ele era muito forte. Além disso, ninguém do bairro iria contra ele e sairia em minha defesa. Todos o temiam. Eu nunca o temi, talvez por que acreditava que o amava e era inocente ao achar que ele sentia o mesmo.

Sei que depois do ocorrido, perdi a consciência por um bom tempo. Não sabia onde estava, nem o que realmente tinha me acontecido. Percebi que havia sido abandonada no escuro, num terreno baldio, sem água, sem comida, sem ajuda. Não tinha forças para me mover. Me sentia presa dentro do meu próprio corpo. Tinha vontade de chorar, mas estava tão fraca que as lágrimas nem saíam. Não sei quanto tempo fiquei por lá, só sei que pela primeira vez tive medo.

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