Muitas coisas acontecem na nossa
vida e nem damos atenção a estes momentos. Sempre acreditei ser uma pessoa
infeliz, destinada ao fracasso. Nascer numa família sem recursos financeiros,
trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da casa, ajudar a minha mãe nos
cuidados com meus irmãos mais novos, sempre me fez acreditar o quanto a vida
era injusta para mim.
Com todos os meus pensamentos de
revolta, não quis estudar, comecei a namorar cedo e aos 15 anos fui morar com o
rapaz que achava que amava. Ele era popular no nosso bairro, ganhava dinheiro
de forma ilícita, eu sabia a verdade, mas queria viver da forma que acreditava
ser o certo.
Aos 16 anos, soube que não era a
única “mina dele”. Eu era a original, a escolhida, mas tinha várias por onde
ele passava. Meu ciúmes não me deixava enxergar o que era certo, queria ele
para mim, não podia perder a chance de dividir com alguém o que achava que era
somente meu.
Em meio a minha obsessão, comecei
a fazer o que não devia. Seguia-o. quando ele saía dos locais de encontro, eu
entrava. Humilhava a garota, batia nela e a ameaçava. Um dia, ele descobriu o
que eu fazia, me pegou pelo cabelo, me levou até em casa e me bateu até eu
perder a consciência.
Foram questões de segundos ou
minutos talvez, porém neste momento, só queria sobreviver. Foi o único momento
que pensei em minha família e percebi que da maneira deles, eles me amavam e
que da minha maneira nunca amei e nem fui amada pelo homem que dediquei a minha
vida.
Lembro que gritei muito, tentei
me defender por diversas vezes, mas ele era muito forte. Além disso, ninguém do
bairro iria contra ele e sairia em minha defesa. Todos o temiam. Eu nunca o
temi, talvez por que acreditava que o amava e era inocente ao achar que ele
sentia o mesmo.
Sei que depois do ocorrido, perdi
a consciência por um bom tempo. Não sabia onde estava, nem o que realmente
tinha me acontecido. Percebi que havia sido abandonada no escuro, num terreno
baldio, sem água, sem comida, sem ajuda. Não tinha forças para me mover. Me sentia
presa dentro do meu próprio corpo. Tinha vontade de chorar, mas estava tão
fraca que as lágrimas nem saíam. Não sei quanto tempo fiquei por lá, só sei que
pela primeira vez tive medo.
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