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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Margarida

Eu quero dizer um pouco da minha história. Nasci numa cidade bem interiorana. Com muita dificuldade, meus pais tentaram criar todos os seus filhos, que até a época eram sete. Eu nunca aceitei a minha situação de pobreza, a qual vivíamos. Sempre soube das oportunidades que uma cidade grande nos permitia ter e num determinado dia, ao completar meus quinze anos, decidi partir em busca de novas oportunidades.
Nesse dia, lembro que meu pai foi para a roça trabalhar, alguns dos meus irmãos o acompanhara e outros ficaram em casa ajudando a minha mãe. Na hora do almoço, já tinha tudo planejado. Escondera umas mudas de roupa e como fazia quase todos os dias, peguei a marmita para levar para o meu pai e irmãos. Sabia que ganharia tempo até eles perceberem a minha ausência. Sei que da minha maneira, despedi de cada um deles. Meu sonho era que eu pudesse trabalhar, ganhar muito dinheiro e levar meus pais para a cidade para terem uma vida digna. E assim, fui pela estrada. Caminhei alguns quilômetros até que vi uma carroça, pedi que ele me levasse até o posto. Lá havia uma grande movimentação de carros e peguei uma carona com o José.
Fomos conversando durante longas horas, contei a ele o que pretendia e para onde queria ir. Depois de algumas horas, senti confiança naquele homem que estava do meu lado. O cansaço da viagem fazia com que o sono chegasse e aí acredito que dormi. Não sei por quanto tempo, mas quando acordei estava num quarto deitada na cama com o José.

Ele disse que não havia feito nada comigo, que só paramos para descansar, mas que eu tinha que aprender que tudo na vida tinha um preço e que aquele seria o preço que eu tinha que pagar pela carona que ele estava me dando. Fiquei aterrorizada, não sabia o que fazer. Tive medo, mas sabia que não conseguiria sair dali. Então aceitei o que ele propunha. Foi doloroso a noite que passei. O pior da minha vida. Me senti: humilhada, suja, completamente destruída. Meus sonhos nem se iniciaram e acabaram ali. Como sobreviver? Como ser feliz depois deste dia? O cheiro daquele homem me enojava. Não suportava vê-lo, não suportava me ver, não suportava imaginar a que ponto cheguei para alcançar algo que estava tão distante? Naquela noite, me senti um nada e no meio do nada, aquela menina cheia de sonhos, desapareceu.

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