Eu quero dizer um pouco da minha
história. Nasci numa cidade bem interiorana. Com muita dificuldade, meus pais
tentaram criar todos os seus filhos, que até a época eram sete. Eu nunca
aceitei a minha situação de pobreza, a qual vivíamos. Sempre soube das
oportunidades que uma cidade grande nos permitia ter e num determinado dia, ao
completar meus quinze anos, decidi partir em busca de novas oportunidades.
Nesse dia, lembro que meu pai foi
para a roça trabalhar, alguns dos meus irmãos o acompanhara e outros ficaram em
casa ajudando a minha mãe. Na hora do almoço, já tinha tudo planejado. Escondera
umas mudas de roupa e como fazia quase todos os dias, peguei a marmita para
levar para o meu pai e irmãos. Sabia que ganharia tempo até eles perceberem a
minha ausência. Sei que da minha maneira, despedi de cada um deles. Meu sonho
era que eu pudesse trabalhar, ganhar muito dinheiro e levar meus pais para a
cidade para terem uma vida digna. E assim, fui pela estrada. Caminhei alguns
quilômetros até que vi uma carroça, pedi que ele me levasse até o posto. Lá havia
uma grande movimentação de carros e peguei uma carona com o José.
Fomos conversando durante longas
horas, contei a ele o que pretendia e para onde queria ir. Depois de algumas
horas, senti confiança naquele homem que estava do meu lado. O cansaço da
viagem fazia com que o sono chegasse e aí acredito que dormi. Não sei por
quanto tempo, mas quando acordei estava num quarto deitada na cama com o José.
Ele disse que não havia feito
nada comigo, que só paramos para descansar, mas que eu tinha que aprender que
tudo na vida tinha um preço e que aquele seria o preço que eu tinha que pagar
pela carona que ele estava me dando. Fiquei aterrorizada, não sabia o que
fazer. Tive medo, mas sabia que não conseguiria sair dali. Então aceitei o que
ele propunha. Foi doloroso a noite que passei. O pior da minha vida. Me senti: humilhada,
suja, completamente destruída. Meus sonhos nem se iniciaram e acabaram ali. Como
sobreviver? Como ser feliz depois deste dia? O cheiro daquele homem me enojava.
Não suportava vê-lo, não suportava me ver, não suportava imaginar a que ponto
cheguei para alcançar algo que estava tão distante? Naquela noite, me senti um
nada e no meio do nada, aquela menina cheia de sonhos, desapareceu.
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