Páginas

terça-feira, 19 de abril de 2016

Lúcia Helena

A cada ano de vida, eu agradecia pela oportunidade que eu tinha de continuar vivendo. Não por considerar que a minha vida fosse fácil, mas por dar valor a cada momento que passei. Teve de tudo: perdas de quem amava, comemorações do meu casamento, de cada filho que tive, de cada conquista e de cada derrota. Resumindo a minha vida, ela foi cheia de altos e baixos.
Nasci numa família tradicional na zona rural, casei-me nova com um homem que aprendi a gostar, meus partos foram sofridos, mas o amor que tinha pelos meus filhos era maior. Dos oito filhos gerados apenas cinco vingaram. Passei por todo tipo de situação, porém, ao envelhecer minha vida foi tomando outro rumo. Os anos foram passando e com o tempo, as perdas. Em um dos meus aniversários, sem ter a companhia do meu finado esposo, meus filhos resolveram internar-me numa clínica. Não era boba, sabia que eles estavam visando o que meu marido deixara. A luta pela posse dos bens era impedida pela minha pessoa, para isso fui dada como enferma.
No início, revoltei-me com a situação. Cada dia que se passava, tudo que eu fazia para demonstrar a minha sanidade era má interpretada. Eles me dopavam e houve um dia que realmente acreditei que estava doente. Neste momento, percebi que nenhum dos meus filhos me visitavam. Nem isso, eles eram capazes de fazerem por mim: saber se estava bem. Sofri. Como passar tantos anos amando seres que te despreza? 
Muito tempo se passou, a mágoa tomou conta de mim, havia me transformado em alguém que não era eu. Contudo, um dia pude perceber que tudo é passageiro e que devemos perdoar a quem nos fez tanto mal. Orei por cada um deles e percebi o quanto eles precisavam aprender sobre o amor. Ao perceber a minha falha na criação de cada um deles, chorei. Sabia que era tarde demais e que só a vida encarregaria de mostrar a verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário