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terça-feira, 12 de abril de 2016

Joana

A doença da alma é a pior de todas as doenças por que com ela a cura só é realmente encontrada com os nossos esforços pessoais. E quando estamos doente, precisamos de tratamento e nem sempre seguimos as recomendações de forma tão correta. Uma pequena melhora, já nos faz reduzir a medicação ou até mesmo pará-la por conta própria e normalmente, voltamos até pior.
Passei por este problema ao longo de vários anos. Iniciou-se quando descobri que não era filha dos meus pais. O meu mundo veio ao chão. Comecei a me sentir inferiorizada, escolhi caminhos errados, comecei a andar com pessoas que não queriam nada da vida, só zoar. Como eu queria, como eu sabia.
Larguei os estudos, comecei a beber e fumar como uma forma de rebeldia. Me envolvi com um amigo de farra e engravidei em menos de quatro meses. Levava uma vida tão desregrada que aos dois meses sofri um aborto espontâneo. Isso não me abateu. Havia achado bom. Afinal, era filha de uma desconhecida e é isso que meu filho seria para mim. Momento algum, pensei em cuidar da criança.
Os anos foram passando, emagreci bastante, quase não me alimentava. Minha vida ainda era beber e fumar. Porém, não era mais seleta. As dosagens foram aumentando e bebia qualquer coisa que aparecesse. Minha família, tentou fazer algo por mim, mas não quis a ajuda. Nem queria saber da existência deles. Odiei-os por muito tempo. Acredito que odiava a mim mesma, mas não aceitando esta condição, transferi este sentimento as pessoas que mais me amaram. Minha vida permaneceu assim até que soube da morte de minha mãe de criação. A dor foi profunda, o sentimento de culpa e de não ter ficado ao lado, me consumiu. Prostrei. Sofri um abalo emocional que não imaginava. Esta culpa ainda me persegue. Tentei ir algumas vezes na casa dos meus familiares, mas não sabia o que dizer, não sabia o que eles pensavam sobre mim e pensei por muito tempo o que eles me diriam sobre tudo que fiz. A minha covardia foi mais forte, mais uma vez. Decidi que não ia mais pensar sobre isso. Voltei ao que fazia bem, beber. Sem estudo, sem trabalho, sustentando um vício que era maior do que eu, adoeci. Lembro que dentro de mim só queria o perdão dos que me amaram e que eu os reneguei. Ao ser internada na clínica, lembro que num dia, como se fosse num sonho, vi que meu pai de criação estava ali ao meu lado. Ele segurava a minha mão e orava para que eu ficasse bem. Percebi o quanto ele me amava e que não havia dado o devido valor. 

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