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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Silvana

Sei que é estranho nascer num lar cheio de posses e se sentir infeliz. Afinal, infelicidade foi um sentimento que sempre esteve diante de mim. Fui uma garota que amava ser amada, mas este amor sempre vinha em forma de presentes. Tive tudo que o dinheiro pode comprar, menos o que mais esperei, ser amada de verdade.
Aos 15 anos ganhei de presente de aniversário uma viagem. Não era novidade, eu sempre viajava, mas como era especial para as garotas neste dia viajar, assim também foi para mim. Meus pais arrumaram uma excursão de adolescentes e enquanto eles tinham negócios a fechar, fui viajar.
Me senti péssima. Não pelas pessoas, nem pelo local, mas até antes dos meus 15 a viagem ainda era a única coisa que eles faziam comigo. Percebi que a partir daquele dia, nem isso eu teria. Quando cheguei não quis sair com o grupo, fingi que estava indisposta e fiquei no hotel. Levaram um médico para me consultar, mas ele disse que poderia ser indisposição, fuso horário ou até mesmo cansaço e que não precisavam preocupar.
Depois que eles se foram, eu saí. Afinal, sabia que eu era uma pessoa sozinha e que eu precisava saber me defender. Ali seria o lugar certo para isso. Peguei um metrô e andei pela cidade, quando resolvi descer, estava num local totalmente desconhecido. Nem cheguei a rua, fui assaltada. Levaram meu dinheiro, meu passaporte e a máquina fotográfica. Tentei me manter calma. Sabia que tinha duas opções: ir à polícia ou pegar um táxi e voltar para o hotel. Andei mais um pouco, ali não parecia um bairro frequentado por policiais. Resolvi então ir atrás de um táxi. Quanto mais andava, mais aterrorizada ficava. Nunca vi tanta pobreza em um único local.
Vi uma garota mais ou menos da minha idade, assentada na beira da rua. O idioma não era empecilho para mim. Pensei em sondá-la onde estava, como pegar um táxi. A conversa foi fluindo e acabei dizendo que fui assaltada. Ela mostrou compaixão por mim. Disse que poderia confiar que me ajudaria. Falou que me levaria a sua casa para pegar um dinheiro para eu voltar para o hotel onde estava e que faria um mapa para não me perder novamente.
Andamos umas duas quadras. Chegamos a uma casa completamente estranha. Entramos. Me senti mal quando entrei. O lugar era horrível. Ela foi até a cozinha e pegou uma água para mim. Não queria beber, sentia nojo, mas com ela me ajudando daquele jeito, senti uma certa gratidão e por não querer ser julgada, bebi. Passaram alguns minutos, ela pegou o dinheiro e estava fazendo o mapa, quando me senti muito mal. Minha mente não correspondia ao meu corpo, senti enfraquecer e desmaiei.

Sem conseguir me movimentar, percebi que entraram outras pessoas na casa. Senti que eles pegaram o meu corpo no chão e me carregaram para outro local. Por algum tempo, senti que estava sendo tocada, lembro que tive um medo insuportável. Não conseguia saber o que estava acontecendo. A sensação era ruim. Sentia frio, medo e não me movia. Comecei a lembrar da minha família. Com toda a indiferença sabia que era amada.
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