Quem sou eu? Três palavras me definem
bem: força, superação e amor. A vida nunca foi um mar de flores para mim. Mesmo
antes de nascer, eu já estava condenada a uma realidade sem escolhê-la.
Crianças normais correm, pulam,
brincam, machucam e choram. Então, eu fui normal? A resposta seria sim, se não
fosse por um detalhe: eu não fui criança. Eu não pude ser. As circunstâncias
exigiram que eu crescesse rápido e que eu aprendesse a me defender sozinha
porque na verdade eu sempre estive sozinha.
Fui morar com a minha avó paterna com
dois anos de idade. A partir daí eu não sabia, mas acabara de começar aquilo
que seria o meu grande pesadelo. Meu pai havia sido preso pouco antes de eu
nascer e quando completei três anos, eu juntamente com a minha avó ia sempre visitá-lo.
Meu pai morreu assassinado no presídio quando eu tinha cinco anos.
Eu não pude vê-lo sendo enterrado, eu
não pude despedir dele como deveria. Só carrego uma memória da pessoa dele e
esta é o melhor que carrego em toda minha vida, pois nunca me vi tão alegre
nesta lembrança que tenho dele neste dia. Essa mesma idade que marcou a perda
de meu pai, deu início ao meu pesadelo.
Durante 10 anos da minha vida fui
agredida sexualmente, psicologicamente e fisicamente pelo marido da minha avó
paterna, sujeito que ela conheceu no presídio em que meu pai se encontrava.
Foram anos cruelmente horríveis. Já estive à beira da morte várias vezes, mas
nem tudo sempre foi cinza.
Morei no Rio por três anos e nesse
período mesmo em meio ao caos da minha vida, eu vivi momentos únicos ao lado de
pessoas inesquecíveis. Em poucos detalhes, porém intensos em que a vida sorriu
para mim. E esse período reflete muito em quem sou agora.
Passei anos de minha vida desejando
morar com a minha mãe e tive essa oportunidade. Não houve um dia em que não
sonhasse com isso e se tornou real. Foi muito o tempo perdido, a nossa relação
não é como se tivéssemos nascido de novo, estamos sempre nos conhecendo,
aprendendo a cada dia ser mãe e filha. Ela se tornou a única pessoa que tenho.
Faz falta não ter o meu pai, mas com a minha mãe, tive a chance de ter uma
família de verdade.
Com tantos problemas enfrentados,
acabei numa psicóloga, em uma das consultas ela me fez duas perguntas:
1- O que quero
ser da vida?
2- De onde vinha
toda essa força de passar por tudo isso sem nenhum apoio e nunca ter desistido?
Quanto a primeira pergunta eu ainda não
sei qual caminho seguir, são tantas as opções, porém, eu esperei muito tempo
para ter o direito de escolher, a minha realidade, o meu destino que pode ter
certeza que não desperdiçarei nenhuma flor que a vida me der.
Quanto à segunda pergunta pude sentir a
expectativa e a perplexidade pela resposta, mas não consegui dá-la na hora.
Depois de tanto refletir cheguei a uma conclusão: minha força sempre veio do amor.
Levo comigo uma frase que me faz sempre ir
adiante: se eu quiser ver o arco-íris preciso aguentar a chuva.
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