Páginas

sábado, 4 de junho de 2016

Vitória

Quem sou eu? Três palavras me definem bem: força, superação e amor. A vida nunca foi um mar de flores para mim. Mesmo antes de nascer, eu já estava condenada a uma realidade sem escolhê-la.
Crianças normais correm, pulam, brincam, machucam e choram. Então, eu fui normal? A resposta seria sim, se não fosse por um detalhe: eu não fui criança. Eu não pude ser. As circunstâncias exigiram que eu crescesse rápido e que eu aprendesse a me defender sozinha porque na verdade eu sempre estive sozinha.
Fui morar com a minha avó paterna com dois anos de idade. A partir daí eu não sabia, mas acabara de começar aquilo que seria o meu grande pesadelo. Meu pai havia sido preso pouco antes de eu nascer e quando completei três anos, eu juntamente com a minha avó ia sempre visitá-lo. Meu pai morreu assassinado no presídio quando eu tinha cinco anos.
Eu não pude vê-lo sendo enterrado, eu não pude despedir dele como deveria. Só carrego uma memória da pessoa dele e esta é o melhor que carrego em toda minha vida, pois nunca me vi tão alegre nesta lembrança que tenho dele neste dia. Essa mesma idade que marcou a perda de meu pai, deu início ao meu pesadelo.
Durante 10 anos da minha vida fui agredida sexualmente, psicologicamente e fisicamente pelo marido da minha avó paterna, sujeito que ela conheceu no presídio em que meu pai se encontrava. Foram anos cruelmente horríveis. Já estive à beira da morte várias vezes, mas nem tudo sempre foi cinza.
Morei no Rio por três anos e nesse período mesmo em meio ao caos da minha vida, eu vivi momentos únicos ao lado de pessoas inesquecíveis. Em poucos detalhes, porém intensos em que a vida sorriu para mim. E esse período reflete muito em quem sou agora.
Passei anos de minha vida desejando morar com a minha mãe e tive essa oportunidade. Não houve um dia em que não sonhasse com isso e se tornou real. Foi muito o tempo perdido, a nossa relação não é como se tivéssemos nascido de novo, estamos sempre nos conhecendo, aprendendo a cada dia ser mãe e filha. Ela se tornou a única pessoa que tenho. Faz falta não ter o meu pai, mas com a minha mãe, tive a chance de ter uma família de verdade.
Com tantos problemas enfrentados, acabei numa psicóloga, em uma das consultas ela me fez duas perguntas:
1- O que quero ser da vida?
2- De onde vinha toda essa força de passar por tudo isso sem nenhum apoio e nunca ter desistido?
Quanto a primeira pergunta eu ainda não sei qual caminho seguir, são tantas as opções, porém, eu esperei muito tempo para ter o direito de escolher, a minha realidade, o meu destino que pode ter certeza que não desperdiçarei nenhuma flor que a vida me der.
Quanto à segunda pergunta pude sentir a expectativa e a perplexidade pela resposta, mas não consegui dá-la na hora. Depois de tanto refletir cheguei a uma conclusão: minha força sempre veio do amor.

Levo comigo uma frase que me faz sempre ir adiante: se eu quiser ver o arco-íris preciso aguentar a chuva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário