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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Cecília

Sempre fui uma garota mimada. Tinha tudo e não tinha nada. Cresci numa família onde o dinheiro comprava tudo, inclusive o amor. Fingíamos para os outros, ser sempre uma família feliz, era fácil, depois sempre ganhávamos o que queríamos.
Éramos 4 irmãos: Lucas, Davi, eu e Noema. Lucas era o destemido, não tinha medo de nada. Sempre enfrentou os nossos pais e era o que estava sendo preparado para administrar o império da família. Davi era o aventureiro, gostava de esportes radicais e viajava o tempo todo. Eu, já era a típica burguesinha. Tinha o melhor de tudo: roupas, bolsas, sapatos, joias, gostava de sair e adorava a vida que levava. Noema já era a diferente da família, gostava de estudar, era tímida, não se preocupava com o visual e era a que sentia falta dos nossos pais em casa.
Na realidade não que a gente não sentia, mas passamos a vida inteira sendo criados por empregados. A Noema que sempre idealizou tê-los em casa. Com isso, eu e meus irmãos aprendemos a nos beneficiar da ausência deles.
O que aconteceu que num dia raro, onde a família estava reunida e todos nós já crescidos, idealizando suas próprias vidas, fomos assaltados e com o assalto veio a morte dos nossos pais. O que sucedeu foi que a primeira evidência foi acreditarem que meus pais reagiram e com isso o crime. Depois, com a descoberta de novas evidências passamos a ser considerados mandantes do crime.
É engraçado como a vida desmorona do dia para a noite. Nós irmãos não podíamos sair da cidade enquanto estivesse acontecendo a investigação. Não confiávamos nem em nós como família, nem em ninguém que nos cercava. Afinal, um de nós poderia ter matado os nossos pais. Quase não dormia, passava a noite em claro ouvindo passos, conversas e outras coisas mais. Todas as noites, trancava a porta do meu quarto, conferia se as janelas estavam lacradas. Não podia correr o risco de ninguém entrar em meu quarto. Passava horas imaginando que um dos meus irmãos poderia estar arquitetando a minha morte e sempre pensava de qual forma seria.

O tempo foi passando, as investigações não progrediam, meu medo aumentava e eu já estava literalmente exausta. Precisava descansar. Precisava dormir um pouco. No meio a tanto caos e a tanto desespero só achei uma saída, tomar uma medida não convencional. Fui ao quarto que era dos meus pais, sabia que minha mãe sempre tomava um remédio para dormir e procurei por toda a parte. Foi bem ruim estar ali e sozinha. Tudo lembrava a eles. Só queria achar os comprimidos e sair dali o mais rápido possível. Depois de algum tempo procurando, encontrei. Estava tão desesperada por tomá-los que os ingeri ali mesmo. Nem me preocupei com a quantidade, só queria me sentir um pouco em paz e foi assim que me senti, até a hora que tomei consciência dos meus atos.

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