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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Flaviana

Eu sempre tive problemas de comportamento. Adorava quebrar as regras. Nunca entendi porque regras se chamam regras porque esta é uma palavra que me faz querer fazer sempre o contrário.
Desde criança era assim. Meus pais falavam: - Flaviana não faça isso. E eu fazia. – Flaviana não faça aquilo. E eu também fazia. Eu não fazia por fazer, eu realmente tinha vontade em fazer.
Quando fui para a escola, foi horrível. Havia regras para todos os lados: horários, uniforme, comportamento, atividades. Eu até tentava, mas era algo dentro de mim que não me permitia fazer o que era certo. Situação: depois de ocorrências, suspensões e expulsões de quatro escolas, meus pais desistiram de me mandar estudar.
Para namoro então eu com certeza era a menos indicada. Não aguentava nenhum rapaz querer achar que só por namorar mandava em mim. Situação: depois de muitas tentativas fracassadas, desisti de querer levar um relacionamento a sério.
Meus pais sempre se preocuparam com o que seria de mim. Parecia que eles enxergavam há anos de distância e eu sei que eles tentavam fazer o melhor. De qualquer forma, para mim era mais difícil porque eu queria ser uma outra pessoa, mas eu não era e ninguém entendia os meus esforços.
Numa noite de outono, viajamos de férias para a casa da minha tia, irmã de minha mãe. Ficamos lá uns quinze dias. Realmente eu gostei do ambiente. Ela morava num rancho. A vida era tranquila e sem cobranças. No meu último dia lá, como eu desejei não ir embora. Mas não passou de desejos, em poucas horas já estávamos dentro do carro retornando para a cidade.
Estava um pouco frio, ainda era de madrugada e havia muitas neblinas. Como eu tinha ido dormir bem tarde porque queria aproveitar ao máximo o tempo que me restava, em poucos minutos adormeci dentro do carro. Afinal, a viagem era longa.

Só me lembro que antes de dormir, estava feliz de ter ido para lá. Depois de tantos anos, eu pude me conhecer melhor e ver que gostava de alguma coisa. Nestes dias, percebi que podia ser normal. Antes de fechar os olhos lembro que disse aos meus pais que de alguma maneira pudemos nos reencontrar como família.

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