Eu sempre achei que era feliz,
mas depois fui vendo que eu era uma pessoa tão limitada que comecei a ficar na
dúvida se era ou se imaginava ser. Sempre achei que a vida perfeita era amar,
respeitar e servir a quem amamos. Assim fiz com os meus pais e depois permaneci
assim com meu marido e filhos.
A minha vida era simples e
rotineira. Acordava cedo, cuidava dos afazeres domésticos e me arrumava para
esperar o meu marido chegar do trabalho. Neste período cuidava dos filhos e os
deixava prontos para aguardar a chegada do pai. Na sua presença, jantávamos,
conversávamos um pouco e íamos deitar.
Com o decorrer dos anos, a minha
filha sempre me questionava se não me faltava nada. Eu nem precisava pensar
porque a resposta era sempre a mesma. – Faltar o que? Minha vida é perfeita. Ela
olhava para mim e não dizia mais nada.
Depois achei que ela gostava de
comentar as coisas externas que aconteciam, que gostava de me manter a par da
situação já que eu quase não saía de casa. Com o tempo, comecei a achar se era
algum tipo de maldade, mas ficava observando-a e não conseguia sentir isso
vindo dela. Um dia perguntei a ela qual era o motivo dela me contar o que
acontecia com a família de suas colegas. Ela me disse que eu devia deixar de
ser ingênua, se eu nunca havia reparado o que era a minha vida.
Senti vontade em dar-lhe um tapa
de tanto atrevimento dela falar assim da minha vida. Mas me contive. Anastácia sempre
fora assim meio rebelde. Só que uma coisa aconteceu. Comecei a cada dia a me
sentir estranha, indagava tudo que me acontecia e o que poderia estar errado. Um
dia, ao sair de casa, comecei a entender o que minha filha queria me dizer. Olhava
para mim e não me reconhecia mais. Parecia que os anos haviam passado e que eu
me transformara numa mulher terrivelmente acabada.
Meu sentimento foi de vergonha. As
mulheres estavam arrumadas, cuidadas e eu parecia um maltrapilho. Voltei para
casa me sentindo mal. Como pude fazer isso comigo? Quem havia me tornado? Depois
desse dia fui me retraindo cada dia mais. Fiquei pensando o porquê de nunca ter
ido a uma festa ou a uma reunião de escola. Percebi que todos que me cercavam
tinham vergonha da pessoa que eu era.
Com o tempo fui perdendo tudo o
que eu tinha e amava. Meus filhos cresceram e seguiram seus caminhos, meu
marido eu não sabia por onde ele andava, a minha casa parecia mais um lugar mal
assombrado. Não arrumava, não cuidava, tudo deixou de ter valor. Não sentia
vontade de fazer nada, nem de comer nada, nem de ser nada. Aliás, nada eu já
era. Só esperava o momento que eu poderia parar de pensar e descansar
eternamente.
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