Sou Simone e venho de uma família
imensa. Acredito que o meu maior problema seja a mágoa que tenho das pessoas
com quem convivi. Por mais que o meu pai batalhasse e nos desse o melhor, nada
era suficiente para as pessoas que insistiam em nos maltratar.
Para que vocês entendam a minha
estória sou neta de escravos. Então sou mulher, sou negra e meus cabelos são
encaracolados. Quando criança sempre ouvi falar da discriminação que todos
sofriam, porém achava que era apenas palavras, não atos. Só que a cada ano que ia envelhecendo
percebi que as pessoas eram cruéis.
Meu pai com muita luta, estudou e
formou em direito. Ele exercia a profissão em nossa comunidade, o que fez com
que ele se tornasse um homem popular e bem de vida. Depois de alguns anos no
exercício da profissão e lutando sempre pelos nossos direitos, ele veio a se
candidatar a um cargo político. E assim ele conseguiu nos dar uma vida mais
digna.
Na minha vida de adolescente eu era
sempre muito criticada. Meu pai fez questão deu ir estudar numa escola de
ricos, onde todos menos eu, eram brancos. Parecia que os meus colegas estavam
convivendo com uma pessoa de outro mundo. Eles escondiam as coisas de mim com
medo deu vir a roubá-los, em trabalhos grupais eu sempre fazia individual, pois
ninguém queria fazer trabalho com uma negra. Na classe eu assentava no final da
sala e até os professores ignoravam as minhas perguntas. Era como se eu não
existisse. Quando alguém se dirigia a mim, queriam que eu fizesse algum
trabalho “sujo” e sempre faziam questão de dizer que eu era a filha da empregada
(não que ser filha de empregada não fosse uma profissão digna de respeito,
porém o que eles queriam era mostrar que os meus pais não tinham capacidade de
se tornarem pessoas bem sucedidas).
Num dado momento, já não queria
ir para a escola, comecei a cabular aulas, depois fiz amizade com um pessoal
“da pesada” e lá estava eu dando vida a quem eles queriam que eu fosse. Nesse
momento ainda não havia me dado conta de que estava traçando uma outra estória
em minha vida. Sem que percebesse estava cavando o meu próprio poço.
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