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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Simone

Sou Simone e venho de uma família imensa. Acredito que o meu maior problema seja a mágoa que tenho das pessoas com quem convivi. Por mais que o meu pai batalhasse e nos desse o melhor, nada era suficiente para as pessoas que insistiam em nos maltratar.
Para que vocês entendam a minha estória sou neta de escravos. Então sou mulher, sou negra e meus cabelos são encaracolados. Quando criança sempre ouvi falar da discriminação que todos sofriam, porém achava que era apenas palavras, não atos. Só que a cada ano que ia envelhecendo percebi que as pessoas eram cruéis.
Meu pai com muita luta, estudou e formou em direito. Ele exercia a profissão em nossa comunidade, o que fez com que ele se tornasse um homem popular e bem de vida. Depois de alguns anos no exercício da profissão e lutando sempre pelos nossos direitos, ele veio a se candidatar a um cargo político. E assim ele conseguiu nos dar uma vida mais digna.
Na minha vida de adolescente eu era sempre muito criticada. Meu pai fez questão deu ir estudar numa escola de ricos, onde todos menos eu, eram brancos. Parecia que os meus colegas estavam convivendo com uma pessoa de outro mundo. Eles escondiam as coisas de mim com medo deu vir a roubá-los, em trabalhos grupais eu sempre fazia individual, pois ninguém queria fazer trabalho com uma negra. Na classe eu assentava no final da sala e até os professores ignoravam as minhas perguntas. Era como se eu não existisse. Quando alguém se dirigia a mim, queriam que eu fizesse algum trabalho “sujo” e sempre faziam questão de dizer que eu era a filha da empregada (não que ser filha de empregada não fosse uma profissão digna de respeito, porém o que eles queriam era mostrar que os meus pais não tinham capacidade de se tornarem pessoas bem sucedidas).

Num dado momento, já não queria ir para a escola, comecei a cabular aulas, depois fiz amizade com um pessoal “da pesada” e lá estava eu dando vida a quem eles queriam que eu fosse. Nesse momento ainda não havia me dado conta de que estava traçando uma outra estória em minha vida. Sem que percebesse estava cavando o meu próprio poço.

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