Sempre fui retraída, de falar
pouco e quase não tinha amigos, sair de casa era algo realmente raro. Um dia
minha mãe recebeu em casa uma amiga que não via desde o tempo da juventude. Ela
acabara de se mudar para a cidade que morávamos e quase não conhecia ninguém.
Foi um dia bem legal porque pude
conhecer a sua filha que aos poucos foi tornando minha melhor amiga. Eu realmente
confiava nela, era como uma irmã que nunca tive. Em alguns meses já fazíamos tudo
juntas.
Leandra era bem diferente de mim.
Ela era ousada, falava bastante, era carismática e todos a notavam, não pela
sua beleza, mas por marcar presença. Foi uma amizade interessante, pois éramos
que a metade da outra.
O tempo foi passando e eu fui
entrando num mundo que não era o meu. Leandra era do tipo que chegava,
chegando. Ela fazia de tudo um pouco. Bebia, fumava, usava drogas, transava com
diversos rapazes e raras as vezes já chegou até furtar.
Até onde sei, aos dezessete ela
já tinha passado por dois abortos. Não que foi intencional, mas ela era tão
desligada de tudo que engravidou e perdeu sem saber que estava grávida. Depois do
segundo aborto, ela se transformou de vez.
Ficou séria, quis mudar seus
hábitos e até pensou em se tornar freira. Por alguns meses ela levou a vida
realmente a sério. No seu aniversário de 18 anos, sua mãe fez uma festa
surpresa, afinal, era uma data que todos nós aguardamos, o ano da nossa
independência. Bem, no início da festa, Leandra se queixa de não estar se
sentindo bem. Mesmo assim, ela fez de tudo para ser agradável. Mas na hora dos
parabéns, aí não teve jeito, o desmaio foi inevitável.
A ambulância não demorou para
chegar. Imediatamente ela foi levada para o hospital. Depois de alguns dias e
muitos exames, vinha a resposta, Leandra estava doente e era terminal. Como uma
garota cheia de vida tem uma doença terminal? Ninguém esperava por isso, muito
menos ela. Dois dias depois que ela saiu do hospital, o resultado. Leandra não
aguentando a pressão, tomou uma decisão bem inconsequente, tirou sua própria
vida.
Foi horrível. Ninguém acreditava
no ocorrido. Ficamos perplexos com essa atitude tão covarde vindo dela. Passei os
meses seguintes deprimida, com raiva, sem entender o ocorrido, lamentando não
ter estado mais ao lado dela, sentindo muito a sua falta e chorando bastante. Sabia
que não teria outra amiga e realmente não tive.
Tentei seguir com a minha vida e
fazer várias coisas, mas não conseguia fazer nenhuma. Comecei a me sentir um
pouco perturbada, quase não dormia. Quando dormia, sonhava com a Leandra como
se quisesse me dizer alguma coisa. Mas nunca entendia o que ela queria.
Andava horas pela rua sem rumo,
as vezes assentava para assistir TV mas me perdia nos pensamentos. Minha vida
começou a ficar vazia, sem sentido. Me sentia sozinha, chorava bastante, olhava
as fotos que tinha da Leandra e sempre tentava fazer uma oração para sua alma, mas
não conseguia. Ficava pensando o que poderia ter acontecido com ela, pois,
muitas vezes ouvi estórias de pessoas que narravam as possíveis soluções
aplicáveis aos suicidas e não era nada agradável. Quando pensava nisso,
estremecia.
Sei que tentei dar o máximo de
mim para voltar a minha vida, a voltar a ser quem eu era, a estudar ou até
mesmo a trabalhar, mas não tinha forças. Sentia-me realmente sugada. Estava cansada
e com o tempo adoeci.
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