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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Joseane

Sempre fui retraída, de falar pouco e quase não tinha amigos, sair de casa era algo realmente raro. Um dia minha mãe recebeu em casa uma amiga que não via desde o tempo da juventude. Ela acabara de se mudar para a cidade que morávamos e quase não conhecia ninguém.
Foi um dia bem legal porque pude conhecer a sua filha que aos poucos foi tornando minha melhor amiga. Eu realmente confiava nela, era como uma irmã que nunca tive. Em alguns meses já fazíamos tudo juntas.
Leandra era bem diferente de mim. Ela era ousada, falava bastante, era carismática e todos a notavam, não pela sua beleza, mas por marcar presença. Foi uma amizade interessante, pois éramos que a metade da outra.
O tempo foi passando e eu fui entrando num mundo que não era o meu. Leandra era do tipo que chegava, chegando. Ela fazia de tudo um pouco. Bebia, fumava, usava drogas, transava com diversos rapazes e raras as vezes já chegou até furtar.
Até onde sei, aos dezessete ela já tinha passado por dois abortos. Não que foi intencional, mas ela era tão desligada de tudo que engravidou e perdeu sem saber que estava grávida. Depois do segundo aborto, ela se transformou de vez.
Ficou séria, quis mudar seus hábitos e até pensou em se tornar freira. Por alguns meses ela levou a vida realmente a sério. No seu aniversário de 18 anos, sua mãe fez uma festa surpresa, afinal, era uma data que todos nós aguardamos, o ano da nossa independência. Bem, no início da festa, Leandra se queixa de não estar se sentindo bem. Mesmo assim, ela fez de tudo para ser agradável. Mas na hora dos parabéns, aí não teve jeito, o desmaio foi inevitável.
A ambulância não demorou para chegar. Imediatamente ela foi levada para o hospital. Depois de alguns dias e muitos exames, vinha a resposta, Leandra estava doente e era terminal. Como uma garota cheia de vida tem uma doença terminal? Ninguém esperava por isso, muito menos ela. Dois dias depois que ela saiu do hospital, o resultado. Leandra não aguentando a pressão, tomou uma decisão bem inconsequente, tirou sua própria vida.
Foi horrível. Ninguém acreditava no ocorrido. Ficamos perplexos com essa atitude tão covarde vindo dela. Passei os meses seguintes deprimida, com raiva, sem entender o ocorrido, lamentando não ter estado mais ao lado dela, sentindo muito a sua falta e chorando bastante. Sabia que não teria outra amiga e realmente não tive.
Tentei seguir com a minha vida e fazer várias coisas, mas não conseguia fazer nenhuma. Comecei a me sentir um pouco perturbada, quase não dormia. Quando dormia, sonhava com a Leandra como se quisesse me dizer alguma coisa. Mas nunca entendia o que ela queria.
Andava horas pela rua sem rumo, as vezes assentava para assistir TV mas me perdia nos pensamentos. Minha vida começou a ficar vazia, sem sentido. Me sentia sozinha, chorava bastante, olhava as fotos que tinha da Leandra e sempre tentava fazer uma oração para sua alma, mas não conseguia. Ficava pensando o que poderia ter acontecido com ela, pois, muitas vezes ouvi estórias de pessoas que narravam as possíveis soluções aplicáveis aos suicidas e não era nada agradável. Quando pensava nisso, estremecia.

Sei que tentei dar o máximo de mim para voltar a minha vida, a voltar a ser quem eu era, a estudar ou até mesmo a trabalhar, mas não tinha forças. Sentia-me realmente sugada. Estava cansada e com o tempo adoeci.

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