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sábado, 4 de abril de 2015

Laura

Durante muitos anos, acordei acreditando que me casaria com um príncipe encantado. Passava horas planejando como seria o meu casamento, a minha casa e como aproveitaria a minha família. Quando fiz 17 anos me apaixonei. Oscar era perfeito. Tinha conhecimento, era maduro, bonito e se vestia bem, tinha o emprego certo, enfim, era o homem que todo mundo queria.
Durante muitos meses namoramos. Ele queria ter uma relação mais séria. Eu ganhava presentes o tempo todo: chocolates, bichos de pelúcia, flores. Quando fiz 18 anos os presentes se tornaram mais sérios: perfumes, lingerie, jantares românticos.
Eu amava. Estava vivendo o melhor momento da minha vida. Oscar também me amava: me ligava, ia me buscar na escola, estava sempre comigo. Mas sabia que ele queria mais. Eu estava pronta e confiante para o próximo passo.
Lembro que disse a ele que queria uma demonstração de amor. Nesse momento, achei que ele fosse me pedir em casamento, mas o anel que ele me deu com os votos de amor, surtiu um efeito bem positivo. Ao questioná-lo sobre a nossa união, ele dizia que estava muito cedo, que ele tinha que conseguir uma promoção no emprego e que eu deveria terminar os estudos. Acreditando em tudo, entreguei-me.
Eu não sei dizer sobre a minha primeira noite foi uma mistura de sentimentos. No final, eu só queria estar com ele. Sabia que fazia o que era o certo. Nos meses que se seguiram, encontrávamos todos os dias. Passávamos horas juntos. Eu realmente acreditava que estávamos cada dia mais próximos.
Nesse ínterim, fui me afastando de todos os meus amigos e familiares. Eles não gostavam do meu namoro. Achavam o Oscar bem mais velho e sempre repetiam que eu ainda não tinha conhecido a família dele. Algumas vezes cheguei a perguntá-lo sobre isso. Ele me dizia que era filho único e que perdera seus pais quando adolescente. Senti tanta tristeza que depois desse dia não quis mais tocar no assunto. Afinal, ele era um sobrevivente. 
Os meses foram passando, acabou que nem me dei conta que já morava com ele. Eu adorava tudo, cada momento, apesar de não tê-lo todos os dias perto de mim. Ele trabalhava muito e com isso as viagens a trabalho, as reuniões até tarde. Mas ele sempre dava um jeito de me ligar e dizer que me amava.
Um dia cansada de ficar em casa e depois de muita insistência da minha irmã, saímos. Disse logo a ela que se perguntasse algo sobre mim e o Oscar que iria embora. Ela disse que se eu estivesse bem que isso já era suficiente para ela. Foi uma tarde agradável. Conversamos, rimos, lembramos sobre os velhos tempos e como sempre havíamos sido unidas e confidentes. A tarde passara rápido e a noite já se aproximava. Olhei as horas, eram quase 19:00 horas. Tinha que voltar para casa. Normalmente, Oscar me ligava por volta das 20:00 horas e eu tinha que atendê-lo.
Despedi-me e saí. Estava feliz de ter encontrado com a minha irmã. Sabia que queria vê-la mais vezes. Ao andar até o ponto de ônibus, observei num restaurante que passara, que estavam comemorando um aniversário. Pareciam felizes. Parei um pouquinho para observar. Senti saudades dos meus pais e de quando eles comemoravam o meu aniversário. Tinha sempre um ritual. Percebi que algumas lágrimas estavam saindo dos meus olhos. Voltei para a festa e fiquei tentando imaginar quem era o aniversariante. Fui tomada por uma onda de pânico.
Eu não acreditava no que via. Com certeza era ilusão ou um tipo de vertigem. Oscar estava ali. Como não conseguia me mover, continuei observando. Ele e uma mulher estavam atrás do aniversariante. Percebi depois das fotos que eles tiravam que a criança o abraçara e que depois ele e a mulher se beijaram. Aquilo era uma família feliz e eu não fazia parte dela. Senti uma pontada no meu coração, corri.
Naquele momento que ouvi uma freada de um carro, soube que nunca mais o veria.

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